O medo do abandono é, por definição, o temor de perder alguém ou algo e de se encontrar sem referências, sem alguém para olhar e encontrar sentido. Trata-se de uma verdadeira sensação de abandono e solidão que pode ameaçar o próprio eu: Ao perder o outro, eu perderia uma parte de mim e tudo o que o outro me reflete.
Na ausência da pessoa, ou da ideia à qual se apega, pode-se sentir um vazio de sentido em relação ao próprio lugar no mundo e ao lugar que se ocupava antes da experiência de abandono.
“Perder” refere-se a algo que antes existia e que, mais ou menos de repente, deixa de existir; experimenta-se uma ausência em relação a algo que antes era uma verdadeira presença.
Como se chama o medo do abandono na psicologia?
Esse medo, longe de ser banal, pode afetar a todos e ser experimentado em diferentes momentos da vida. Por exemplo, pode surgir ao enfrentar escolhas complexas ou pode acompanhar o sentimento diário como um verdadeiro ruído de fundo que condiciona profundamente o próprio agir.
O medo de ser abandonado pode estar relacionado a alguns problemas de saúde mental (como o transtorno de personalidade limítrone) e é comumente chamado de “síndrome do abandono”. Neste artigo, aprofundaremos diversos aspectos, falando em detalhe sobre:
- O que é a síndrome do abandono
- A que se deve o medo de ser abandonado
- Como se trata o medo do abandono.
VEJA TAMBÉM: Como se Autoconhecer e Transformar Sua Vida
Quais os Sintomas Medo do Abandono?
Como se comporta uma pessoa que tem medo do abandono? Cada um atribui um significado diferente a um mesmo acontecimento, no entanto, é possível identificar alguns gatilhos que podem ser ativados em correspondência a eventos em que ocorre uma separação real ou imaginada que marca o início do trauma de abandono.
As mais conhecidas são as angústias de fragmentação: não se experimenta uma unidade de si mesmo, ou seja, não se percebe um senso de continuidade em relação à própria experiência e pode-se também ter a sensação de não ser real, de se desintegrar e desaparecer.
Frequentemente, pode-se viver com dificuldade o próprio relacionamento com o outro e confundir-se entre si e o outro; as próprias necessidades podem ser indistintas em relação às do outro e não se consegue ter clareza em relação às próprias ideias e vivências.
Pode-se, além disso, sentir-se perseguido, prejudicado e conviver com uma sensação constante de perigo e ameaça. Quando se entra em contato com a experiência da perda, é possível o surgimento do medo do abandono com ataques de pânico ou crise de ansiedade. Essas experiências podem ativar também angústias depressivas.
Em algumas relações, pode-se experimentar uma depressão de abandono do parceiro e sentir-se culpado pensando ter prejudicado o outro, interiorizando um forte sentimento de desvalorização de si mesmo. Em outros casos, a angústia de abandono pode se traduzir em isolamento, como, por exemplo, aquelas pessoas que se tornam verdadeiros acumuladores de coisas.
A ansiedade de abandono remete a angústias muito profundas que fazem referência aos primeiros momentos de vida. Para compreender, de fato, o que é o medo do abandono e de onde vem a ansiedade de abandono nos adultos, vamos rever algumas etapas do desenvolvimento psicológico.
WhatsApp Me Apaixonei
Acesse nosso canal no WhatsApp e receba dicas de relacionamento, frases de amor e citações para todos os momentos!
Acesse AgoraPossíveis Causas da Síndrome do Abandono
A síndrome de abandono pode ser ativada por diversos fatores desencadeantes. Entre as possíveis causas do medo do abandono nos adultos, encontramos, por exemplo, alguns eventos precipitantes:
Em suma, um evento tangível que desperta vivências de abandono muito mais profundas, que podem estar ligadas a um verdadeiro medo do abandono.
VEJA TAMBÉM: Desvendando o Amor Próprio: A Chave para uma Vida Mentalmente Saudável
O Medo do Abandono e as Marcas no Desenvolvimento Infantil
Desde a infância, é necessário que haja alguém que possa suprir as necessidades da criança, acolhê-la, contê-la e proporcionar-lhe a sensação de ser sustentada e manuseada com cuidado e atenção. É fundamental que isso aconteça para que o pequeno não perceba o mundo ao seu redor como algo caótico e indiferenciado.
Através do espelhamento, quem cuida da criança consegue devolver-lhe suas sensações e colocá-las em palavras: a criança é capaz de encontrar a si mesma na mente e no olhar do adulto.
A experiência contínua e repetida de cuidado é necessária para que a criança possa, gradualmente, internalizar as figuras de apego para depois poder se separar delas (de acordo com suas modalidades e fases evolutivas).
Trata-se de um processo nada linear, muito complexo e possível apenas quando as separações evolutivas são vividas serenamente pelo indivíduo, de modo que cada experiência de crescimento não seja percebida como uma ameaça para sua pessoa e seu eu.
O medo da rejeição e do abandono, que nas crianças pode assumir diferentes níveis de intensidade até o Transtorno de Ansiedade de Separação, refere-se a esses momentos da vida em que a existência da criança estava intimamente relacionada a outro que cuidava dela.
Em situações ambientais desfavoráveis, quando não foi possível atender às necessidades profundas da criança, torna-se mais complexo enfrentar os desafios evolutivos que se tornam crescentes, motivo pelo qual, em relação às experiências de separação, podem surgir medos de abandono.
Podem existir inúmeras dificuldades que interferem no processo de separação-individuação, como lutos ou traumas não resolvidos no cuidador (quem cuida da criança), tornando a separação e a individuação muito mais complexas; a pessoa fica no limbo da busca constante de outro a quem se agarrar para afastar medos profundos.
Medo do Abandono: Existem Testes?
Como vimos, o medo de perder uma pessoa e de ser abandonado que persiste na idade adulta pode ser consequência de traumas infantis ou experiências adversas que envolvem a criança e suas figuras de apego.
Embora não existam testes específicos para a síndrome do abandono, os psicólogos dispõe de diversos instrumentos que podem utilizar para avaliar se o que está diante dele é uma dinâmica relacional constante, repetitiva e rígida.
Nesse sentido, a entrevista clínica e a relação paciente-terapeuta são ferramentas valiosas que permitem explorar como a pessoa se vê em relação ao Outro, bem como o surgimento de dinâmicas relacionais específicas. Alguns momentos do percurso terapêutico, como por exemplo as férias do terapeuta, podem de fato fazer com que o paciente se sinta abandonado.
Outra modalidade para avaliar o medo do abandono é a avaliação do estilo de apego, que nos adultos é realizada através de instrumentos como a Entrevista de Apego Adulto.
VEJA TAMBÉM: Como a Resiliência Melhora nossa Saúde Mental
Síndrome do Abandono e Transtorno de Personalidade Borderline
A literatura científica evidenciou inúmeras correlações entre a síndrome do abandono e o transtorno de personalidade borderline, um transtorno caracterizado por uma dificuldade identitária em que parece complexo traçar limites entre si e o outro.
A relação com o outro, se por um lado é profundamente desejada porque permite não sentir o medo do abandono, paradoxalmente, ativa o medo de ser abandonado justamente porque o outro pode ir embora a qualquer momento, e isso é uma fonte de ameaça.
As relações tornam-se, nesse cenário, profundamente complexas de cultivar porque carregam consigo a sombra e o perigo constante do abandono. Tudo se torna instável e caótico no mundo da pessoa com transtorno borderline, sentindo-se como se a qualquer momento tudo pudesse desmoronar.
As relações tornam-se um “absoluto”, um poderoso antídoto capaz de silenciar as angústias de abandono. A ausência do outro se transforma em um vazio impossível de preencher e um peso extremamente insustentável.
Síndrome do Abandono no Relacionamento Amoroso
Frequentemente, a distinção que permite entender se alguém sofre de síndrome do abandono e compreender se está diante de um problema relacional é perceber uma tendência a repetir constantemente os mesmos padrões relacionais.
Nesses casos, as mesmas modalidades são vividas e revividas em diferentes relações (pode-se experimentar medo do abandono na amizade, mas também pode afetar os relacionamentos de trabalho).
Encontra-se vivendo relacionamentos em que o medo do abandono, por exemplo, leva a se afastar do parceiro toda vez que a relação se torna mais profunda (como acontece na filofobia e na contradependência afetiva) e a terminar por medo de ser deixado.
Em outros casos, tem-se a tendência de se ligar a pessoas que não desejam entrar em um relacionamento sério e sofre-se por isso, tornando-se um parceiro ciumento e consumindo-se, permitindo que o outro o mantenha sob controle, vivendo com a ansiedade e o medo de ser abandonado.
O medo do abandono nas relações pode gerar relacionamentos muito intricados, baseados na dependência afetiva. A correlação entre medo do abandono e dependência afetiva baseia-se, de fato, no medo de ficar sozinho e perder alguém, o que causa a sensação de se sentir abandonado.
Assim, esse medo de perder a pessoa amada leva o dependente afetivo a experimentar angústia de abandono, a lutar contra a solidão e a não conseguir contemplar a separação psíquica do parceiro, que não é percebido como outro, mas como uma extensão de si mesmo.
VEJA TAMBÉM: 4 Hábitos que Destroem seu Cérebro que Consideramos “Normais”
Síndrome do Abandono: Como Superá-la?
A psicoterapia encoraja o surgimento de determinados conteúdos e processos, trazendo à luz os padrões relacionais interiorizados das primeiras experiências significativas, por exemplo, com os próprios pais dentro do ambiente de vida.
Essas experiências podem ser revividas dentro da relação terapêutica, que se torna uma experiência de profunda compreensão emocional de si em relação ao outro. O espaço de escuta torna-se um lugar onde se pode permitir sentimentos que, de outra forma, seriam difíceis de expressar, sentimentos que antes do processo terapêutico eram frequentemente desconhecidos e inexplorados.
Na sessão, é possível compreender como enfrentar o medo de perder uma pessoa, como superar um abandono e as emoções que ele pode trazer consigo (como a raiva ou a ansiedade de abandono).
VEJA TAMBÉM: Anuptafobia: Medo de Ficar ou de Estar Solteiro e Como Superar
Este é um conteúdo informativo e não substitui a diagnose de um profissional.