Fragmentos do meu dia e o pensamento em você

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Procurei um chiclete na casa inteira. Na bolsa. No armário. No carro. Você sabe como eu sou. Ansiosa. Inquieta. Mil pensamentos ao mesmo tempo. Dez janelas abertas na aba do navegador. Play no Youtube. Volume máximo no fone de ouvido. Cinco mensagens pipocando ao mesmo tempo no WhatsApp. 15 e-mails não lidos. E ainda não deu nem dez da manhã.

Hoje promete ser mais um dia daqueles. Agitado. Corrido. Pressão no máximo. Carro quebrado. Oficina. Mercado. Ginástica. Terapia.

Ó, céus, quanta coisa!

Você me liga. Quer saber como estou. Agradecer pela noite incrível que tivemos.

Tic-tac.

Meio dia.

Subo no ônibus. Sento na janela. Compro uma pipoca do vendedor ambulante. Pulei o almoço. Preciso enganar o estômago.

Desço na frente da oficina.

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Uma poça d’água. Plaft.

E lá se foi meu look de gatinha. Meia-calça molhada. Respingos na saia. E lá se foi o meu humor.

Ligo o carro. Conserto concluído com sucesso. Sigo rumo ao escritório. Lembro da roupa molhada. Mudo o trajeto. Aciono o elevador. Marco o andar do meu apartamento. Giro a chave. Entro no chuveiro. Troco de roupa. Desço até a garagem. Dou partida.

Ring ring.

Estou no escritório. O telefone não para de tocar. Três recados na minha mesa. Preciso correr. Clientes já me esperam na sala de reuniões. Ajusto a apresentação. Você aparece na minha tela de fundo do notebook. Sorrio.

Tic-tac.

19h.

A terapeuta pede para eu me sentar. Acomodar. Preciso rever meu dia. Minha semana. Repasso com ela minhas últimas decisões. Exponho meus medos. Abro meu coração. De repente já não sou mais a executiva. Sou apenas mais uma mulher no mundo. O meu mundo.

Tic-tac.

20h30.

Banheiro da academia. Mais uma troca de roupa. Top e short. Tênis.

E de repente sou aquela que quer se ver livre do buchinho. Sou mesmo só mais uma mulher no mundo. Subo na esteira. Faço abdominais. Vou para a bicicleta. Faço uma série para treinar as pernas.

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Tic-tac.

21h30.

Sigo para o mercado. Esqueci a lista. Não importa. Geladeira vazia. O que eu comprar está bom. Testo a memória. Escolho as frutas. As carnes. O leite. O pão.

Tic-tac.

22h.

Casa. Cansada. Esgotada. Suada.

Onde fica mesmo a minha cama? Antes paro no banheiro. Ligo o chuveiro. Sabonete. Toalha. Testo a temperatura da água. Sinto os primeiros pingos. Deixo a água percorrer todo o meu corpo. Lavar meu corpo. Limpar minhas angústias. Abrir meus poros. Levar minha ansiedade. E de repente sinto-me renovada. Enrolada na toalha.

Deito na cama. Quero ficar aqui pra sempre. Escurinho. Silêncio.

E de repente volto a lembrar de mim. E de você. Durmo com você no pensamento e um sorriso no rosto.

Rachel Motta

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