Respeite o seu tempo

Estava lendo uma postagem do psicólogo Marcelo Marchiori falando sobre a urgência do nosso tempo. Na minha interpretação, ele falava sobre o desrespeito com o tempo necessário para que a gente assimile os acontecimentos em nossa vida.

Somos imediatistas, temos objetivos audaciosos para antes dos 30, como casar, ter filhos, uma profissão e estabilidade financeira; queremos superar perdas dolorosas em uma semana, queremos um ano em um dia.

Aprendemos desde pequenos a cair e levantar rápido. “Não doeu nada” os mais velhos diziam, e a gente engolia o choro para superar a dor do ralado o mais rápido possível, porque o mundo não para de girar pra gente se levantar.

E não para mesmo! Então temos que dar graças a Deus por termos sido ensinados a seguir em frente, mas, também temos que respeitar nosso tempo.

Cair muitas vezes machuca e machucados doem. Alguns são mais profundos e levam tempo para cicatrizar. Não temos que sair mancando por aí fingindo que está tudo bem quando não está. Nem temos que nos cobrar para seguir os padrões de idade adequada para cada etapa em nossa vida, porque cada um tem seu próprio tempo.

A pressa não nos permite ler o manual. Não permite que façamos os ajustes adequados em nossa vida para estarmos aptos para seguir em frente. Forçamos o motor a trabalhar além da sua capacidade, ignoramos os ruídos de mau funcionamento. Não respiramos, não choramos as dores, não nos recolhemos em silêncio, não respeitamos nosso tempo.

Essa pessoa aqui que vos escreve é a rainha da pressa. Eu não leio manuais, detesto estudar para provas, acho que jamais passaria num concurso, nem sei como esperei 9 meses para nascer. Repeti por aí “eu não gosto de ficar sozinha” e me tornei uma completa desconhecida de mim mesma.

Meu silêncio era perturbador para mim, porque eu começava a me ouvir e me apavoravam todas as coisas que eu tinha para me dizer, para compreender em mim e, assim, eu nunca respeitei meu tempo. Quando era obrigada, a espera me consumia. Estava sempre atropelando as coisas e consequentemente, me atropelando.

Hoje compreendo que perdi muitas coisas por conta da minha urgência. E também conquistei muitas outras em virtude da minha ousadia em não saber esperar, então, não estou aqui me lamentando, só constatando que o tempo existe e é soberano e se desrespeitado, em algum momento te cobrará por isso.

Cá pra mim, decidi me respeitar nesse sentido. Me olhei no espelho e o refrão do O Teatro Mágico ressoou “eu não sei na verdade quem eu sou”. Não sei mesmo. Ou sei, até sei, mas o que mais sei é que por bastante tempo eu fui o que precisava ser para me adequar e a gente não deve fazer isso por ninguém, nem pelos nossos filhos. A pressão é muita, de todos os lados. Os pequenos são interrogados sobre o que querem ser quando crescer e quando crescem quando vão casar e, quando casam quando terão filhos e… Você conhece a lista!

Nesse ritmo a gente engole o choro, não “perde tempo porque a vida está passando” e acha que não pensar é viver bem a vida, que esperar é deixar a vida passar, mas não é. Eu pelo menos acho que não.

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É imperativo que aprendamos respeitar nosso tempo para olharmos para dentro, ouvirmos nossos barulhos quando fazemos silêncio. E chorar as dores, se esconder debaixo do cobertor em maratonas de Netflix, dar um tempo no motor acelerado até entender o que está se passando do lado de fora. Compreender nossas emoções.

Você assistiu Divertidamente? É uma forma linda de nos mostrar que somos alegria, tristeza, raiva, medo, nojo e etc e está tudo bem ser assim, porém, deve haver um equilíbrio entre as emoções e todas elas devem ser sentidas para aprendermos a nos conhecer e nos respeitar.

Respeitar seu tempo não é desperdiçá-lo, é se permitir o autoconhecimento. Enquanto você não souber quem é e de que coisas precisa, quais são seus medos, suas dores, seus traumas, seus desejos, é provável que siga nesse ciclo repetindo aqueles velhos erros e se perguntando porque essas coisas sempre acontecem com você.

Talvez seja porque você não tem sido você, mas muitas versões inventadas de si mesmo (a) para se encaixar nas expectativas dos outros.

Ninguém, por melhor intencionado que seja, te conhece melhor do que você mesmo (a). Você tem sentimentos e desejos inconfessáveis que manipulam suas ações, sonhos, medos que só você conhece e só você pode determinar o tempo necessário para assimilar as coisas em sua vida e seguir adiante.

Não pare; estagnar não é bom. Mas a capacidade da velocidade do seu motor só pode ser determinada por você. Respeite-se e então, siga adiante sendo capaz de mirar seu reflexo no espelho sabendo exatamente quem você é e de quais coisas precisa.

Obrigada pela conversa! A gente vai se falando. 🙂

Luciana Marques

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