Carta aberta ao meu coração

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“Querido coração, por dias sofremos, mas não foram somente dias, foram semanas, meses, anos.

Sofremos por aquilo que não entendemos, sofremos porque — assim como as crianças — queríamos algo, queríamos aquilo que nos foi negado, fizemos birra, protesto, juras radicais, fomos insensatos e agimos por impulso diversas vezes.

Ah, coração! Por que não ouvimos a voz da nossa razão? Se tivéssemos aceitado que amamos as sensações e não o ser em questão, talvez estivéssemos melhores; talvez fôssemos felizes ou menos tristes.

Eu ouvi certa vez a seguinte frase: “Você dá as pessoas o poder que elas têm sobre você.” Te pergunto, coração: Por que nos rendemos tanto? Entregamos tudo de nós, ficamos indefesos e a mercê de outrem.

Fomos tão magoados, coração. Amar nos seria uma verdadeira tortura, devemos nos tornar aquilo que nos feriu.”

* * *

Caro leitor,

Isso faz bem? Eu sinceramente não sei, talvez dependa do “daqui pra frente”.

Uns diriam que faz parte da vida, outros que deveríamos aprender com tudo isso.

Eu, me atrevo a dizer com toda propriedade que a lição é dura e o que ela nos ensina é a sermos parecidos com nossos algozes, tira-nos a capacidade de nos doar e nos entregar.

Percebi ao longo do tempo que cada despedida se torna mais fácil, nos distância da dor e nos aproxima da indiferença.

Talvez isso seja tido do que é viver de fato e experimentar tudo o que significa estar vivo, nesse contexto a morte parece até algo aconchegante.

O terror de se viver a procura de algo que nunca se encontra chega a ser desesperador.

Lembro-me que um amigo certa vez me disse algo que seria mais ou menos assim: “Isso é culpa do mercado de entretenimento, pois desde pequenos somos instigados a crer que temos uma pessoa perfeita à nossa espera, um príncipe ou uma princesa que nos trará o nosso ‘felizes para sempre’ pessoal.”

Certo, somos uma construção baseada em atribuir a responsabilidade de nossa felicidade a outro e esse outro precisa carregar este fardo até o fim de sua vida.

Essa análise até pareceu bem aterrorizante, mas de fato é o que esperamos. Estamos tão acostumados a sermos egoístas que nem nos damos conta de tal coisa. Ficamos horrorizados quando alguém nos julga: “Egoísta!!!” Mas, não percebemos que realmente somos.

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Quando alguém consegue se desconectar dessa ideia e tira as lentes do “mundo cor-de-rosa” é chamado de insensível, ou como minha geração costuma apelidar carinhosamente: “Miss Frozen”.

Admitir a ideia de que se pode ter uma vida feliz sem dependência emocional do outro, mesmo estando em uma relação romântica, parece algo absurdo. Sim, nesse momento eu seria intitulada de “A mal amada”.

O mais incrível é que eu concordo, eu fui mal amada mesmo, mas não pense que vou começar a culpar o ser na qual tive um sentimento intenso que me atrevi a chamar de amor (doce criança).

Não! Não irei culpa-lo, já o fiz antes, não me rendeu nada de bom, apenas mascarou a realidade que gritava em meu ser.

Fui mal amada sim! Mas fui mal amada por mim! Não me amei quando entreguei a outro todas as minhas armas, retirei as defesas e baixei a guarda do meu amor próprio. Não me amei quando joguei a responsabilidade a alguém que não me conhecia em toda a minha plenitude de me tornar feliz.

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Tola! Ingênua! Insensata! Como pude entregar minha alma a outra pessoa?! Que louca! Hoje, isso me soa engraçado, mas sabe por quê?

Porque eu descobri que a minha felicidade vem de dentro e o máximo que eu posso fazer ao outro (e isso sim seria um ato de amor) é compartilhá-la.

Hoje, minha carta ao meu coração seria mais ou menos assim:

* * *

“Querido coração, erramos. Não deveríamos nos perder lá fora, quando tínhamos tudo aqui dentro.

Mas, crescemos tanto e tão lindamente que podemos assegurar com toda certeza: Somos felizes! Com todos o problemas, com todos os nossos tropeços (que me alegro em dizer que rimos bastante).

A felicidade é algo palpável, a liberdade tangível é algo real para nós, e se a vida nos apresentar alguém, vamos poder mostrar o real poder do amor verdadeiro, mas se não, poderemos dizer: vivemos o amor de uma vida. Ah! E esse amor ninguém vai poder nos tirar.”

Irlem França

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