O Herói Atual.

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Sou da ultima geração a crescer com princesas em VHS que precisavam ser rebobinadas antes de voltarem à locadora. De uma hora pra outra, elas encontravam um belo exemplar masculino repleto de coragem, inteligência, reinos e amor incondicional, nascido através de um sorriso despretensioso em uma tarde de primavera.

Evidentemente isso influenciou meu horizonte de sentido no que se refere a romance, e por um longo tempo, assim como tantas outras mulheres, tive a convicção de que minha vida começaria de fato quando o meu exemplar transbordante de amor incondicional acidentalmente derrubasse meus livros no corredor do colégio e, enquanto gentilmente me ajudaria a juntar, teria seu coração fisgado por tempo indeterminado (tendendo a infinito) na velocidade de um olhar.

O mundo mudou, as princesas do cinema também. Cinderela poderia trocar um whats com seu príncipe e o mesmo aplicativo salvaria Romeu e Julieta de uma morte tão trágica, que fora causada por uma falha de comunicação. Os padrões pouco a pouco se modificaram, e a nossa definição de romance, e principalmente de herói romântico, não se manteve presa no tempo.

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O herói da nossa era digital é um homem comum, pode se chamar Otto ou Rodrigo, com um sobrenome de pronúncia igual à escrita, que trabalha em um escritório ou no caixa de uma farmácia, sai à noite com os amigos, usa aplicativos de relacionamento. Sem castelos, geralmente ele tem um apartamento pequeno demais para qualquer móvel que não seja milimetricamente planejado.
Por vezes, divide o aluguel com os amigos.

Sem carruagem, ele adquiriu o primeiro veículo em um financiamento de 56 parcelas, ou é desses loucos cheio de encanto que uma vez por ano viaja pedindo carona. O que o faz nobre e corajoso, não é a capacidade de enfrentar madrastas ou dragões, nem mesmo escalar torres ou ressuscitar princesas. Mas sim a capacidade de enfrentar a si mesmo e usar de sinceridade.

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O ícone romântico de nossa geração é o homem que não deixa de demostrar o que sente, e também o que não sente. Trabalha com a verdade, em suas mais diversas faces e categorias. Faz propostas objetivas, expõe as cartas, encanta assim, de cara limpa (ou até um pouco embriagado) quando te tira pra dançar, lá pelas 2hs da madrugada, ou manda um áudio de 40 segundos cantando uma dessas musicas de Alguém que deixou Alguém.

Ele tem um quê de imprevisibilidade, seja para gastronomia, filmes ou para o programa de domingo à tarde. E liberdade! Recíproca. A certeza de não pertencer e, ao mesmo tempo, escolher permanecer sem algemas. Não ilude, não brinca, e não foge sem se despedir.

O herói romântico dos anos 2017 é um desses caras que conhecemos na fila do banco, que poderia passar despercebido, se não fosse aquele ar despreocupado de quem aprendeu o segredo do heroísmo moderno: A capacidade de existir bem longe dos contos de fadas.

Deborah Anttuart

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