Meu pior inimigo: eu mesma

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Existe uma parte de mim que é feita de sombras e neve. Ela me curva, destrói e transforma meus sonhos em fumaça.

Ela me faz chorar. Transforma medos impossíveis em pesadelos reais.

Existe uma parte minha, uma parte escura e com uma voz sedosa que sempre me diz: você não é inteligente o suficiente.

Você não é bonita o suficiente.

Você não merece.

Você. Nunca. Vai. Ser. Suficiente. Em nada.

Uma vez, elogiaram meus olhos cor-de-mel. Ao invés de simplesmente assentir a informação, as vozes em minha mente só me faziam lembrar as cicatrizes de espinha, na baixa estatura e como meus cabelos estavam tão maltratados. Ele mascarou um elogio falso, certamente nada em mim era bonito.

Foi um elogio, apenas isso. Mas era incapaz de consentir.

Os gritos de derrota emudeciam qualquer parte boa em mim.

Escrever um texto era sempre um desafio. Sempre achei tentador, simbólico e atraente transformar meus pensamentos em palavras, algo aflorado desde minha juventude. Mas nunca conseguia mostrar para ninguém o que escrevia. Era doloroso pensar que alguém leria aquilo que escrevi com todo carinho e desprezasse. Afinal, as vozes obscuras dos meus pensamentos sempre me alertavam que aquilo não era bom o suficiente.

Iriam zombar, rir e dizer para o mundo que cada palavra era horrível. Não poderia mostrar para ninguém algo tão intolerável.

Quantas vezes não exclui algo depois de escrever, temendo que alguém lesse? Quantas vezes não chorei após terminar um texto, querendo e ao mesmo tempo sabendo que era indigna de compartilhar isso com alguém?

Elas diziam.

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Elas estavam certas.

Recentemente uma amiga me ofereceu a chance de começar a aprender um novo idioma. Rapidamente comecei a desprezar o convite, ressaltando o quanto eu era burra e que jamais conseguiria algo tão complexo. Não era mais uma adolescente. Era tarde demais para aprender algo novo. Ela era nova e já era fluente em outra língua. E eu? O que estava fazendo com a minha vida? Estava jogando ela no lixo?

Era estúpida. Não conseguiria jamais fazer algo bom.

Não conseguiria aprender uma língua nem me aprofundar em uma profissão, mesmo que no fundo meu coração já palpitasse por um sonho.

Eu não conseguiria. Jamais.

Ninguém disse isso para mim, mas eu mesma disse isso. Minha parte sombria.

Era ela que me colocava para baixo até sentir meus ossos quebrarem. Que dizia para desistir e desistir. Que ninguém se importava. Que não era importante ou inteligente. Bonita ou especial.

Ela me levou para o fundo do poço e não conseguia mais ver as estrelas depois da aurora.

Sangrando, sufocando e me deteriorando por dentro.

Sempre sabotando qualquer plano, qualquer luz.

E como combater um monstro que está dentro de você?

O primeiro passo: lutar.

Por mais difícil que seja é preciso lutar. Uma guerra mental com palavras, sua principal espada nessa batalha. Não é fácil convencer você mesma que elas estão mentindo. Que tudo é apenas uma nevoa ilusória e que você é muito mais do que tudo isso.

Muito mais do que pode imaginar.

Eu estou lutando contra meu monstro. Fazendo todas as vozes que me colocam para baixo se calarem.

Elas não merecem minha atenção. Elas não são minha verdade e não podem definir quem eu realmente sou.

Uma vida no fundo do poço, mas já estou pronta para escalar e ver um céu cheio de estrelas.

Pela primeira vez.

Vanessa Silvana

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