Ele é a minha primavera

Pouco importa a época do ano, a temperatura, a localização do sol. Ele traz sentido e calor às minhas 24h diárias de existência. Passou-se a fase de adaptação. Estamos acordando lado a lado a meses. Dividindo o miojo de galinha caipira no jantar. Bebendo cerveja de promoção na sexta a noite, até desmaiar no sofá de roupa e tudo.

Maratonando sono e série nos domingos. Dia a dia. Tecnicamente, previsível e sem encanto. Deveria, pelo menos. Foi o que li antes de dizer sim e ver minha geladeira ser tomada por aquela mostarda ridícula que ele acha gourmet.

Falando nele, já aprendeu que lugar de toalha não é em cima da cama. Foi uma missão e tanto. Um avanço enorme no seu crescimento espiritual. Ele pode ainda não ser o melhor homem do mundo, mas é um quase melhor homem do mundo que já não esquece da toalha molhada em cima da cama.

O aprendizado tem sido mútuo. Aquela bagunça de maquiagem, sapatos, livros e louças, sumiu daqui. Desde a última TPM, onde aparentemente ele sofreu as alterações hormonais por tabela, e propomos separação definitiva pelo simples fato de ter cinco copos usados em cima da pia. Usados e abandonados por mim, é bom sublinhar.

Nele não encontrei apenas um cara que colocou uma aliança na minha mão e me apresentou pra mãe. Mas um melhor amigo. Disposto a ouvir que o vizinho novo é bem apessoado mas não tem jeito de ser muito talentoso. Ouvir, rir e dissertar. Sobre isso ou qualquer outra bobagem que momentaneamente vire uma pauta a ser debatida. Bobagens ou relevâncias. Ele já me viu chorar por tanta coisa.

De filme com final ruim, trabalho de trabalho com remuneração injusta, de raiva, de tristeza, de medo. De arrependimento, quando exagero na dose da discussão e fico apavorada com a possibilidade de abrir a geladeira e não ter mais nenhuma mostarda ridícula que não é gourmet nem aqui nem na China.

Medo de ver o lado esquerdo da cama vazio. A casa sem o cheiro dele. É então que ele me entrega aquele olhar de quem não sabe o que dizer, mas está disposto a me abraçar por horas, ou dias, até toda tristeza ir embora. E ele abraça, e faz a primavera magicamente encher a sala. Manda pra longe o medo, o frio e os pensamentos de despedida. Me faz transbordar amor e confiança em mim, em nós, e no que ainda podemos ser juntos.

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Não somos nem de longe o modelo a ser seguido de casal. Tem horas do dia que nem quero ser um casal com ele. Principalmente no trânsito quando ele fica discutindo com pessoas aleatórias que cometem imprudências que, sinceramente, não consigo notar. Ele tem uma pá defeitos insuportáveis. Eu sou bem insuportável. Mas, não sei como, e nem até quando, a gente se da bem. Se completa.

E assim estamos seguindo. Entre altos e baixos. Perdas, danos, remendos e conquistas. Com aquela coisa louca que é minha companhia desde a primeira vez que nossos olhos se encontraram repletos de timidez. Noite barulhenta, casa super lotada, mas com aquele encontro, de repente, tudo se fez silêncio e câmera lenta. E eu senti. Frio na barriga. Borboletas. Na primeira conversa também. No primeiro áudio inclusive.

No primeiro encontro. Primeiro beijo. Segundo Beijo. E no 17378377383993636737¤ também. Ainda não passou. O encanto ainda não passou. A rotina não sufocou. Nem as brigas. Nem os defeitos. Ainda são os mesmos olhos, os mesmos poderosos olhos que silenciam festas, problemas, diferenças e distâncias.

O olhar dele me torna primavera quente e colorida,

24h por dia,

de setembro a setembro,

com a alma florida

e os pés nos céus.

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Deborah Anttuart

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