O amor verdadeiro não é dos maiores. Definitivamente não. Ele não precisa ser gritado, não precisa de foto no Instagram nem de status no Facebook. O amor verdadeiro nem tem aparência de amor verdadeiro: aquele vermelho pulsante dos primeiros meses torna-se meio baço, cansado; mas com personalidade.
Pode perceber, quando seus amigos começam a namorar, as maneiras são até meio parecidas: postam nas redes, saem juntos pra tudo quanto é lugar. Cada aniversário, dia dos namorados, feriadão é praticamente um evento público.
Os beijos toda hora, os amassos, o excesso de língua e baba, o sexo, as viagens, os cinemas… De tão parecidos os comportamentos, podem até serem feitos em grupo. Só de olhar sabe-se: eis ali um enxame de apaixonados. Mas aí você para e pensa nos avós que estão juntos há 50 anos — e se lembra de que ninguém no mundo ama como seus avós.
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Amor verdadeiro é como impressão digital, nariz de cachorro e número da Mega Sena: nunca se repete.
É aquele que você olha na prateleira em meio a tantos amores, de tantas formas, cores e cheiros; e não precisa mais do que alguns segundos para bater o olho e dizer:
“Opa, olha o meu ali… Esse mesmo, o do canto, tortinho, meio puído”.
O amor verdadeiro também é delicado. Leve, difícil de ver. Mas é com orgulho que o deixamos — quando o temos — no canto mais “nosso” da casa. Exposto como bibelô. Só que de forma meio clandestina. Não é todo mundo que o vê e sabe identificá-lo. Só conseguem aqueles velhos amigos ou jovens amantes.
Ele está nos miniaturizados detalhes e ramerrames: a foto antiga; o bilhete gasto de tanto que foi lido e relido; um tocar de mãos; um beijo no nariz (bem na pontinha); cobrir o outro de madrugada; um coçar as costas; o cheiro no cangote ao passar pela cozinha; ajudar sem perguntar antes: “precisa de alguma coisa?”; ou apenas um sorriso decorrente de um olhar.
Mas como se cuida desse ‘coiso’?
E para merecer um amor assim é fácil: torne-se o melhor na arte de amar. Não é custoso. Relacionamentos não são conquistas inconvertíveis. Até mesmo Alexandre o Grande manteve a presença viva nas terras conquistadas para não ser esquecido. E periodicamente treinava seus exércitos, pois sempre havia levantes e novas batalhas a serem travadas.
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Ou, de uma forma bem simples, pense o amor é uma máquina. Daquelas cheias de manivelas, porcas, roscas e engrenagens. Às vezes enguiça, precisa de um aperto aqui, um óleo ali. Mas sua função é, tão somente, fazê-la continuar girando.
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Torne-se a primeira e a última lembrança do seu amado(a), todos os dias. Dê bom dia, boa noite, pergunte como foi o dia. Essa “poesia” nunca falha ou sai de moda. Ligue de vez em quando, diga que está pensando nela simplesmente porque você está.
Um eu te amo tem várias formas: vai com cuidado; já almoçou?; que tal um café depois do trabalho?; ouça essa música, lembrei de você na hora; falta muito pra nos vermos?… Pode-se dizer “eu te amo” também — sem medo.
E pra criá-lo? Dar de comer, beber…
O amor verdadeiro é como pássaros e gaiolas:
Se você deixar a gaiola aberta, para que esta sirva apenas de refúgio e descanso à pequena ave, ela borboleteará por aí livremente, cantando ares felizes na natureza; e voltará pra você no final do dia, cantará boas noites e descansará. Pois ali entenderá que é seu lar; e você terá certeza de que, na beira da janela, pequena, de penas leves, está sua verdadeira companhia. Assim são as coisas na natureza, e assim é o amor.
Agora, se você, por medo e receio de que a avezinha não volte mais, ou de que se machuque; ou que ache outro alguém a lhe dar frutas e água para se refrescar, deixá-la trancada intermitentemente, acontecerá uma dessas duas coisas:
Ela murchará por não mais cantar. Por não mais ver outras aves e voar por aí; por não ver o Sol refletido nas folhas, o orvalho banhando as flores e com elas virar perfume. E morrerá de desgosto, como assim morrem os bichos e as pessoas enclausuradas de suas liberdades e das belezas do mundo.
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Ou, contrário a isso, o passarinho lutará. Mas lutará tão ferozmente como nunca você verá seres tão pequenos lutarem. Cantará sons de ódio contra você. Esgarçará as delicadas penas nas grades e com o próprio bico, beirando a loucura. O terá como inimigo eterno, e você sentirá medo. Medo por ver quem antes era um ser dócil e digno do seu afeto e amor, tornar-se um animal selvagem, indômito. Como todos nós tornamo-nos quando temos a liberdade posta à prova. E morrerá exausto de lutar, esmagado pelas mãos do próprio dono ou devorado propositalmente por algum predador deixado próximo com o consentimento do possuinte — que agora não é mais amor ou amigo; mas algoz.
Não adianta seguir tomado de ciúmes e obsessões. Isso apenas tira o seu sono e o seu descanso — não o do outro. E você se torna algo amargo, escuro por dentro. E a vida precisa de luz e doçura para crescer. Do contrário, quem estiver ao seu lado rastejará aqui, ali, acolá… até achar um fio de luz que lhe aqueça os dedos dos pés — e a alma.
E só quem ama e é amado verdadeiramente sabe o alívio que é ter os dedos dos pés aquecidos no epílogo do dia.
Experimente isso…
Assim são as coisas naturais da vida. E assim é o amor.