Você me mudou

Está chovendo, como quando saímos pela primeira vez. Quando você foi embora naquele dia, disse: “não sei o que vai acontecer agora, mas não me deixa sozinha. Odeio quando me deixam sozinha”.

Eu não deixei, mas você sim. Em oito meses de encontros e desencontros, você aparecia e sumia como levada ou trazida pelos ventos. Mentiu e me enrolou perfeitamente. Sabia que eu estava apaixonado e me usou. Cansado, eu terminava. Você então reaparecia e prometia milhares de coisas. Pronto, era só eu concordar e você sumia de novo, após uma noite precedida de muita cerveja cara e conversa barata.

Minha saúde começou a ir para o buraco. Tudo porque eu não consegui dar um basta e continuei a me comportar como um perfeito idiota.

Você parecia uma pessoa especial. Entendia de cerveja, tinha um disco do Joy Division, tatuagens a dar com pau, uma parede com desenhos do Elvis e franjinha. Quebrou meu copo de chopp de cerâmica japonesa e deixou cair cigarro no meu colchão.

Mas todo esse encanto era fachada. Você me manteve como um estepe por todo esse tempo, nos dias em que aquele barbudo desgraçado não estava disponível para ficar com você. Você se sentia solitária, me chamava. E eu caí como um otário.

E aí quis terminar. Perguntei se havia alguém, você negou. E três dias depois, começou a postar fotos nas redes sociais com aquele idiota.

Você realmente me mudou. Antes de você, eu acreditava que o amor era possível e que eu merecia encontrar alguém que gostasse de mim. Hoje eu não acredito em mais nada. E nem quero. Você matou minha fé no ser humano.

Eu aprendi também. Aprendi a necessidade de ser alguém diferente de você.

Caio Ramos

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