Uma história de amor

“Má, vamos para um bar?”, sugeriu a amiga, por telefone.

“Não estou legal. Obrigada!”, respondeu Marina.

Marina, após terminar o namoro de sete anos com o Rodrigão, perdeu completamente a vontade de sair. Ela parecia ter esquecido o quanto amava sambar até o pé doer. Passava os finais de semana enfiada no quarto, acompanhada somente pela TV ligada em qualquer canal. Mantinha as janelas fechadas até para a lua cheia. Já não pintava mais os lábios de vermelho e, como se não ligasse para a beleza estonteante que tinha, não se importava em portar cutículas roídas e cabelos descuidados.

O telefone tocou novamente.

“Má, em quarenta minutos estarei aí. Não adianta se esconder. Hoje você vai sair!”, Afirmou a amiga, antes de desligar o telefone.

Ao ouvir o tom imperativo e decidido da amiga, Marina sentiu desespero e medo de ter que encarar os próprios fantasmas. Ela achava que não estava pronta para enfrentar o mundo que havia deixado para trás, em algum lugar do passado. Pensou em inventar uma desculpa para, mais uma vez, ficar com a cara na lona, ou melhor, na fronha.

Porém, impelida por uma ordem interior que clamava por felicidade, aceitou a ordem disfarçada de convite. Ela tomou um longo banho quente e deixou que a água levasse muito mais do que as impurezas dela. Permitiu que o medo de se reinventar escorresse pelo vão do ralo. Além do comprido cabelo, lavou também a alma.

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“Me deixa que hoje eu tô de bobeira”, cantou, enquanto provava um dos tantos vestidos floridos que havia esquecido no fundo do armário. No espelho, admirou a beleza da própria coxa. Com ajuda do salto alto, elevou também a autoestima que andava cabisbaixa. Engoliu um Engov e a vontade de desistir.

Pintou os olhos cansados de tanto chorar. Um pouco antes de partir, deu um beijo na testa da mãe que, ao vê-la novamente radiante, sorriu aliviada.

No bar, após alguns copos de cerveja bem gelada, percebeu que, na mesa ao lado, um belo moreno a devorava com as retinas. Ele sorriu e ela, sem pensar duas vezes, retribuiu com um sorriso de cinema americano.

Ele a encarou e ela, esquecendo as dores do passado, mergulhou nos olhos dele. “Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí”, cantava o moço do violão quando o bonito rapaz se aproximou da mesa dela.

“Oi”, disse ele.

“Oi”, disse ela.

“Acabo de pedir uma música para o cantor. Uma música para você. Posso me sentar aqui para ouvi-la ao seu lado?”, perguntou o rapaz.

“Claro!”, ela respondeu com sorriso no rosto.

“Morena, dos olhos d’água, tira os seus olhos do mar. Vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra te dar”, cantou o moço do violão.

E ali, naquele bar, ao som de Chico Buarque, um novo amor nasceu. Brotou, não para apagar as marcas do passado, mas para fazê-la, novamente, amar o presente.

Aquilo, com certeza, foi lindo. Eu não estava ali. Entretanto, ouvi dizer que, até hoje, em algum bar da cidade, o belo moreno continua a dedicar canções e olhares para Marina. Eles não pensam em se casar.

Não querem ter filhos. Não usam aliança. Mas se amam de um jeito que ninguém, nem o maior poeta, é capaz de descrever. Amam-se a ponto de acreditar que para sempre se amarão.

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Eu sou aquele cara que não vai tá sempre com um sorriso no rosto, mas que vai tá sempre querendo causar um.

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