Um brinde a quem deixa acontecer

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Era um encontro casual que tinha tudo pra dar certo. Um cenário bonito e tranquilo, um cara em quem eu investia há um tempo e aquele friozinho que implora pra ser sanado. Um vinho, um violão e o conforto que só os encontros naturais proporcionam.

Nós poderíamos continuar ali, deixar que os beijos rolassem e a vontade ditasse o que seria dali para a frente. Mas o instinto caçador, muitas vezes, nos boicota. Ele saiu sorrateiro, reservou uma pousada, comprou um vinho e me convidou pra ficar a sós. A velha história do ‘vamos para um lugar mais reservado?’

É que não gosto da sensação de ser caçada. Convidada para uma situação propositadamente – e unilateralmente – articulada. Isso me traz a horrível sensação de não ter escolhido – de ter simplesmente sido levada. E isso – me acuse de fresca, se quiser – me incomoda.

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Depois da malemolência de uma noite regada a vinho, das conversas que despertam uma paixão que nasce, não apenas daquilo que se concebe como excitante, mas das sutilezas que transbordam a paixão. Gostaria, na verdade, de tê-lo ouvido contar como adorou (ou não) o último filme de Tarantino. De ter observado por alguns instantes um sorriso despretensioso e sentido vontade de desvendá-lo. Gostaria de ter tocado o seu casaco, assim como quem não quer nada, e desejado arrancá-lo. Só queria que o desejo nascesse naturalmente em vez de ser manipulado em uma cama redonda com meia-luz – porque é assim que se descobre o desejo genuíno.

Gosto da comunhão das vontades que se encontram despretensiosas. Do que simplesmente acontece, do que surpreende a ambos, daquelas situações que convidam o desejo ‘para um lugar mais reservado’. E ele vai, sempre inevitavelmente. Que delícia esse amor desprogramado. Um brinde a quem deixa acontecer.

Nathalí Macedo

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