Sobre como encontrei você, amor

Compartilhe:
Google Imagens

Eu sempre fui meio devagar nesse negócio de jogo. Nunca ganhei nem jogo de palitinho. Não sei se já te contei isso, mas na escola eu me escondia no banheiro na hora do intervalo e ficava lendo Almanacão da Turma da Mônica para não ter que participar dos malditos joguinhos. Sei que é falha minha, admito, mas talvez seja por isso que eu não esteja entendendo se isso que você está fazendo é só bobeira mesmo ou é o famoso; o temido; o famigerado joguinho.

Sabe o que é? É que toda vez que você fica nesse chove-não-molha, some-aparece, responde-não-responde, eu me sinto como um bebê diante daqueles adultos bobos que ficam se escondendo, aparecendo e gritando “ACHOOOOU” naquele tom de voz de falar com bebê que a gente bem conhece. É assim que eu te vejo. E eu juro que isso não é muito sedutor.

Eu sei bem que a nossa geração é meio imediatista e bem egoísta. Sei bem que a gente gosta de seduzir. Sei bem que a gente gosta de conquistas e às vezes não pensa muito se isso pode causar chateações. Eu sei de tudo isso porque mais ou menos, no fim das contas todo o mundo é um pouco assim. Mas eu juro para você que rejeição não é um jeito muito eficaz de sedução. Hoje isso me parece muito lógico. Mais do que qualquer fração.

A verdade verdadeira é que eu já fui a menina insegura que ficava vulnerável a qualquer sinal de rejeição. Isso já desafiou a lógica e funcionou comigo, admito. Mas isso passou. Hoje a rejeição ainda me machuca, me incomoda e me cutuca de jeito muito chato. Seria hipocrisia dizer que não. Rejeição é sempre uma dor e assim como todas as outras, ela passa. Traz alívio. Traz aprendizado. Traz vontade de se afastar do que a causou.

Meu amor, eu esperei tanto para gente se encontrar! E o mundo é tão grande e cheio de pessoas interessantes com brilhos nos olhos prontas para conversar noites afora sobre assuntos profundos como as leis do universo ou mesmo sobre banalidades vistas em reality shows da televisão. Como a gente iria se achar nessa multidão? Eu esperei você chegar na minha vida por tanto tempo. Aí resolvi mudar. Saí eu mesma pelo mundo para te procurar.

Passei por 38 países e 224 cidades em 672 dias de viagem. Foram 6 trens perdidos, 6 passagens compradas de última hora, 18 voos atrasados, 21 noites dormidas em bancos de aeroporto, 193 quartos de hotel, 1 cama quebrada.

Nessa jornada, foram mais de 730 cafés, alguns deles cappuccinos, 247 fatias de pizza, 20 quilos de macarronada italiana, 22 frutas que eu nunca tinha visto antes, 88 pratos com ingredientes impronunciáveis e pelo menos uns 12 choros por causa de exagero de pimenta. Ah teve também 1 intoxicação alimentar.

Tiveram alguns incidentes pelo caminho. 224 picadas de pernilongo, 1 picada de aranha que resultou em uma tarde no hospital, 1 queda de bicicleta que resultou em 5 pontos no joelho, 1 noite na delegacia (já pedi para você amor, não faça perguntas sobre a Tailândia), 2 quase afogamentos nas ondas do Havaí, 40 domingos de ressaca, 40 promessas fajutas de nunca mais beber, 3 galos na cabeça, sendo 1 por pura distração no alto da Torre Eiffel, 1 por pura distração enquanto admirava as três pirâmides do Egito e mais 1 galo que, de tão distraída que sou, nem lembro onde foi. E por falar nisso, teve também 1 passaporte esquecido em um dos 142 museus onde fui procurar você resultando em 1 visita de emergência ao consulado brasileiro em Amsterdã.

E claro, teve muita experiência boa também. 168 dias de praia, 68 trilhas para subir montanhas, 68 vezes em que eu disse “essa é a vista mais linda do mundo”, 588 momentos de perder o fôlego, 89 vezes em que vi o sol nascer no mar, pelo menos 8064 sorrisos espontâneos, alguns que resultaram em 110 crises de riso incontroláveis em lugares inapropriados.

Nessa jornada, encontrei pessoas vindas de quase todos os lugares do mundo, mas não encontrava você, meu amor. Aprendi a falar bom dia e obrigado em 11 idiomas, aprendi os principais movimentos de 17 danças típicas e também acumulei pelo menos 1002 horas de conversação em portunhol.

Então voltei para casa.

Veja só dei uma volta inteira pelo mundo! E a gente só foi se encontrar quando, por engano porque é tão distraído como eu, você bateu na porta da casa onde cresci procurando pelo síndico do condomínio onde a gente sempre morou.

eoh.com.br

VEJA TAMBÉM:

A nossa história…

Compartilhe:
Rolar para cima