Não, eu não quero um romance de cinema

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O cinema molda a sociedade de acordo com tendências fabricadas pela própria sociedade. Com o andar da carruagem (feita de abóbora ou não), a simples experiência de ver um filme se transformou na possibilidade de provocar emoções adormecidas, aconchegar anseios e sonhar com finais felizes. Mas, cá entre nós, ninguém merece viver num romance de cinema.

A moda dos contos de fada descansa em paz, mas não há como evitar os exaustivos clichês de cada filme. Em primeiro lugar, o amor à primeira vista.

Em tempos de selfies perfeitamente arquitetadas, imersos em uma guerra estética cada vez mais obsessiva, como confiar em um único (e efêmero) momento de interesse? Adiante, mais um clichê à vista: triângulo amoroso. Ter que disputar pelo carinho de uma pessoa — ou ser a própria pessoa dividida entre duas possibilidades — é um clichê romantizado ao extremo.

Na prática, a existência de uma terceira pessoa numa relação a dois é obviamente prejudicial e balança as estruturas de qualquer um, estando apenas a um passo de despedaçar um relacionamento saudável.

E o que dizer da constante falta de diálogo entre o casal, especialmente quando um dos personagens está prestes a tomar uma decisão importante? Segredinhos, mentiras e desencontros; estes são os convites ao clichê que não deveria fazer parte de filmes chamados “românticos”: a traição. A “terceira pessoa” é idealizada, enquanto o parceiro atual é vilanizado para que a traição seja palatável. Afinal, quem nunca torceu pra Rose largar Cal Hockley e ficar com Jack, em Titanic?

Por fim, o último clichê afeta somente casais saudáveis e exemplares. Em filmes com casais saudáveis e exemplares, um dos personagens certamente vai morrer. E não apenas morrer, mas morrer de maneira trágica e deprimente.

Como escritora, não questiono a necessidade de inserir conflitos em todos os tipos de histórias — inclusive as de amor. O que questiono é a falta de diversidade desses conflitos, como se a vida a dois não oferecesse nenhuma dificuldade incapaz de destruir o próprio relacionamento, arruinando sempre os mesmos valores: fidelidade, confiança, parceria, intimidade…

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É por essas e outras que eu não quero um romance de cinema. Em vez disso, quero o romance da vida real — este lugar caótico que reúne as maravilhas do acaso e as consequências das nossas atitudes.

Quero a chance de aprender e desaprender, pois o amor é construção que nunca para de crescer (nem mesmo após a lua de mel e o nascimento dos filhos). Quero uma boa companhia, não perfeita, mas disposta a caminhar comigo. E explorar o mundo, investigar mistérios, sentir o frio na barriga, perseguir sonhos, pois não há forma melhor de aproveitar a vida do que amando. Quero fazer minhas próprias escolhas e escrever minha história sem clichês; e não viver fadada ao destino cinematográfico pré-fabricado.

Felizmente, meus “queros” já se transformaram em realidade (há seis anos, muito obrigada), e eu espero que você também encontre seu romance da vida real. São tempos difíceis para amores verdadeiros — tão difíceis que é preciso utilizar a palavra “verdadeiro” para diferenciá-lo dos amores de mentirinha.

Mas saiba que eles resistem, anônimos e maravilhosos, e provam que a vida real ainda é melhor do que a ficção.

V. S. K. Watanabe

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