Estou deitada ao sol, grata pelo que tenho e também pelo que não tenho. Foram duas semanas estranhas, considerando os eventos atuais. No entanto, encontrei tempo para isso em minha rotina diária.
A luz do meu celular acende, um número que não reconheço aparece na tela. Atendo e ouço do outro lado o som da sua voz trêmula que parece uma espada penetrando no lóbulo da minha orelha. O mundo para, meus olhos fixam no nada, meu coração dispara e eu respiro fundo.
Você começa a falar e eu tento não sentir, mas um rolo de filmagem com as lembranças daquele outono surge em meus pensamentos e sincroniza com sua voz e com o que você está dizendo.
Você tenta encaixar suas palavras — confesso que não entendi nada do que você disse, só me lembro de no final você dizer: “Por favor, me perdoa…”
Já faz alguns meses, meses em que aprendi e cresci. Aprendi a nunca correr atrás do que não foi feito para você, porque o que se destina a ser seu sempre será. Meses que aprendi a encontrar calma e paz no lar em que você causou destroços, o lar que pensei que nunca mais poderia voltar a viver sem pensar em você. Mas eu consegui. Eu aprendi. E criei novas memórias sem você.
Encontrei conforto no silêncio das manhãs de sábado das quais você já não fazia mais parte. Encontrei lindas cores no final das tardes, enquanto observava o pôr do sol beijar o horizonte e descobri uma apreciação maior por momentos de solidão. Eu encontrei muita alegria na música e muito mais amor pelas pessoas que estão ao meu redor.
Mas você não aprendeu nada disso. Em vez disso, agora você está aí tentando negociar comigo porque percebeu que não há mais para onde correr. Não há nenhum outro lar para você se esconder.
E aqui está você, e quanto mais você fala, mais me lembro do que passamos. Quanto mais me lembro daquela noite arrepiante na qual todas as minhas expectativas se dissiparam no éter, juntamente com qualquer esperança que eu tinha. Recordo-me de tudo isso enquanto me sento com uma lembrança de tudo o que sua ligação me trouxe.
Eu achava sim que o amor tinha momentos em que era confuso, mas naquela noite eu aprendi tudo o que o amor não é. E o amor não estava lá naquela noite, exceto em minha mente.
Eu pensava que minha vida era melhor com você, mas, querido, no momento em que você partiu, eu desejei tanta felicidade e me envolvi tanto com meu amor próprio, que descobri que eu mereço muito mais do que você me deu nesses poucos tantos anos juntos.
No momento em que parei de correr atrás daquilo que não era para mim, surgiram novas aventuras alinhadas à minha essência. Naquela ligação silenciosa, minha mente foi libertada e todo o barulho que você trouxe parou. Desejo o mesmo para você.
