A nossa liberdade

Lembro que você havia me dito que me abraçaria tão forte que todos os meus pedaços se encaixariam e me fariam inteira de novo. Fui inteira por um bom tempo. Você me mandou uma imagem de uma caixa dizendo a outra que a trataria com cuidado por ser frágil. Hoje duvido muito da minha fragilidade. Tem vezes em que sou porcelana. E outras em que sou metal. Caio como pedra e mais tarde (bem tarde) quebro como vidro.

A caixa de papelão que me protegeria jamais substituiria o seu abraço “encaixadinho”. Porque meu abraço te vestia… aliás: o nosso abraço existia no meio e em volta de nós. Mas tudo isso acabou, não? Queria ao menos poder desfazer nossos abraços, porque em cada abraço uma artéria do meu coração se enlaçava ao seu. E a cada abraço mais laços eram atados a você. E depois tentei desesperadamente cortar essas artérias mas a única forma era desabraçar você. E eu não conseguia. Eu não consigo. Imagino que o seu interior não mudou nada, pois ainda estou junto a você. Ou você está junto a mim.

Mas quero acreditar que sua essência mudou. Mas essências não mudam. Me faça acreditar que você não é mais o mesmo, porque desta forma, ao menos, poderei ficar tranquila: sabendo que a pessoa em quem amarrei o laço do destino não é mais você. Quando o ano virar, se eu te deixar congelado aqui, nesse ano, você irá me acompanhar pelo ano que vem? Faça com que seja mais fácil e fique simplesmente sem ação, parado. Aceite, como eu quero aceitar.

Sinceramente, não tenho motivos para te levar por mais um ano e quero que você voe para bem longe. Não queria ver um anjo se transformando em um pombo… pois é o que você se tornou. Mas espero que se encontre um dia e que seja muito feliz desde agora, porque alguém tem que ser feliz. Melhor que sejamos nós dois. Cada um em seu mundo.

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Para mim, você ainda é um anjo. Sabe… mesmo que a distância não seja muita, se nossos corações não conversarem, é como se não existíssemos um para o outro. Ou, se os nossos corações conversarem, mas nós não, é como deixar tudo morrer. Água parada apodrece, por mais vida que tenha. Nós não sabemos o que o outro está pensando ou o que o outro quer. Eu mesma não sabia direito. Sempre meu desejo é vago e incerto.

Ainda há pouco me pegava perguntando: seria desapego ou frieza? Na verdade, é realismo. E minha realidade, ninguém sabe (nem eu): são mundos paralelos… que me fazem lembrar de um futuro. Desejo que a partir de agora suas asas cresçam e que assim você seja livre. O meu medo era te desabraçar e levar comigo as suas asas. Porque as minhas estão me abraçando, então precisava de outras para voar.

Mas quem disse que a sina de um anjo é voar? Meu tempo ainda não chegou (talvez chegue apenas quando meu coração parar). Mas sabe de uma coisa? Eu não ligo para isso. Não faz sentido ligar. Mas tenho muito o que te agradecer e a te desejar. Transmito isso com um último impulso pelos laços que nos unem. Me liberte também.

Karen Yonamine

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