Se você estivesse aqui

Eu sempre me pergunto como seria se você estivesse aqui.

Como seria se nossos sorrisos tivessem se esbarrado e, ao invés de irmos para curvas diferentes, trens diferentes, estradas mais sinuosas… Apenas aqui e somente isso, como estariam nossas vidas?

O que eu diria se você estivesse na minha frente?

Eu devo estar no segundo copo ou talvez terceiro, mas continua sóbrio o suficiente para pensar nas palavras. Acho que não haveria álcool o suficiente no mundo para me fazer esquecer o seu rosto. Lembrar da curvatura delicada da minha eterna dama de olhos de avelã, cujo sorriso é uma fonte eterna de inspiração.

Foi tudo tão rápido. Eu conheci a garota dos meus sonhos, mas minha covardia me impediu de correr atrás de você. Um encontro no aeroporto, um dia em uma grande cidade, dividindo coincidências absurdas, cafés e expectativas. Cara, tudo era tão simples contigo. A conversa nunca tinha fluído tão naturalmente, levando em conta o fato de nem nos conhecermos antes de tudo isso.

Você falou dos problemas com seu irmão mais novo, os desentendimentos com sua mãe e a sua vontade de ser compreendida. Eu desabafei sobre meu emprego péssimo, as aspirações de abrir futuramente um negócio e como tudo parecia distante agora, mesmo com o apoio paterno. Não era nada ensaiado, mas se encaixava de uma maneira… Mágica. Um garoto e uma garota em uma cidade desconhecida, diferentes mas tão iguais.

Será que me apaixonei por você na primeira xícara de cappuccino com o primeiro diálogo ou foi tudo a primeira vista, antes mesmo de falar o seu nome? Eu não saberia dizer. Nada parece muito claro quando se está apaixonado.

O que eu queria dizer… O que precisava dizer… Aquele dia ao seu lado foi o melhor momento da minha vida. Nunca tinha rido tanto, mostrado verdadeiramente os sentimentos do coração, quebrando a rotina, o tempo. Guardei cada pedaço daquele dia louco com um cuidado imensurável. Abracei sua voz nos meus pensamentos, o sotaque sulista, os trejeitos com as mãos, o primeiro nome.

Como tornar aquelas vinte e quatro horas eternas?

Você foi embora e não fiz absolutamente nada para impedi-la. Ainda fui idiota o suficiente para te acompanhar até o aeroporto sem uma despedida concreta.

Por que não fui junto?

Por que não declarei o que sentia?

Agora você está em algum lugar, espalhando sua vitalidade, coragem, singularidade. Estou aqui apenas com a imagem do seu cheiro e a canção da sua voz, sem poder te ver, te tocar.

Fazendo essa declaração para ninguém.

Mas e se você estivesse aqui?

Eu me declararia. Pediria um novo amanhecer ao seu lado, puxar um papo com seu vinho tinto favorito, preparar um roteiro para uma viagem a dois.

Sussurraria que te amo.

Todavia, não posso te dizer isso…

E jamais poderei, pois deixei você partir.

Vanessa Silvana

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