Você não precisa convencer ninguém a se relacionar com você

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Aconteceu há algum tempo. Eu já estava saindo com um cara há alguns meses, nós nos víamos com frequência, nos falávamos todos os dias, tínhamos interesses em comum, empatia e uma boa relação. Tudo ia quase muito bem até que um dia, em meio a mojitos e um papinho despretensioso, começamos a conversar sobre planos para o futuro.

Perguntei como ele se via daqui a dez anos e em menos de cinco segundos de reflexão ele respondeu que se via rico, dedicado ao trabalho, morando em um duplex bem decorado e vivendo uma vida confortável de homem bem sucedido, porém solitário. Achei a projeção inusitada, dei risada, pensei que isso é muito Christian Grey do Paraguai, perguntei se os planos não incluíam nem um cachorrinho e ele disse que não tem saco para limpar cocô. “Nem de chihuahua?”, eu perguntei. Ele disse que não.

Ele devolveu a pergunta e eu contei que tenho aquele sonho clichê de ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Disse que tenho vontade de namorar, casar e trabalhar para ter uma família e que priorizo minha qualidade de vida. Pensei que nada disso fosse uma novidade e falei que quero ter alguns cachorros. “E o cocô?”, ele perguntou. Respondi que compro uma vap no Mercado Livre e ele disse que não sabia o que era vap. Falei que é um vaso sanitário para cachorros. Ele riu da piadinha e logo desconversou.

Rimos de tudo isso, a conversa logo tomou outro rumo e coincidentemente ou não, nós dois também. Pouco tempo depois daquele dia o encanto acabou, eu comecei a me afastar e promovi a constrangedora conversa do “você é ótimo, mas acho melhor a gente parar de se ver”. Ele respeitou, não questionou e disse que foi legal me conhecer.

Pois bem. Dias desses, por coincidência da vida, cruzei com esse cara em uma fila. Falamos de amenidades e depois de quebrar o gelo ele disse que nunca entendeu muito bem por que motivo a gente parou de se ver. Achei bem estranho e falei que nós temos ideais de felicidade diferentes. “Mas acho que a gente acabaria namorando.”, ele respondeu. Eu falei que não tinha como adivinhar e que não namoraria uma pessoa que eu tivesse convencer.

Parei para pensar nisso tudo e percebi que esse é um erro comum demais. Muitas vezes nós nos submetemos a relações com pessoas que têm planos e ideais diferentes dos nossos e por insistência naquele velho erro de tentar caber em calças que não nos servem, tentamos encaixá-las em nossos planos ou nos adaptar aos planos delas mesmo sabendo que essa é uma receita infalível para o insucesso.

Lembrei das muitas vezes em que ouvi “eu não estou a fim de relacionamento agora”, encarnei o Barney de HIMYM, falei “challenge accepted” e vivi relações forçadas e desconfortáveis. Lembrei das minhas amigas que planejam casar com caras que há dez anos dizem que não estão preparados e daquele bonequinho “enforcado” que muita gente coloca em cima do bolo como se casamento fosse uma prisão para o qual o cara só vai se for amarrado. Lembrei de tudo isso e comecei a questionar por que nós insistimos no erro de fazer das relações um desafio quando elas deveriam ser mera fonte de alegria, crescimento e felicidade para a vida dos dois.

Hoje, consciente dos meus projetos e qualidades, eu percebo que uma relação só tem chances de prosperar quando os dois acreditam e valorizam esse projeto com a mesma intensidade. Hoje eu percebo que não há nada mais devastador do que ter que convencer alguém a se relacionar com você quando há muita gente no mundo com planos convergentes com os seus. Hoje eu percebo que se relacionar com alguém realmente envolve algumas dificuldades, mas que a vontade de se relacionar não deve ser uma delas. Isso é prioridade.

EOH

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