Uma vida no olhar

Rosto abaixado, olhos no celular. Em um relance, ao levantar a cabeça, uma troca de olhares. Por um momento me perdi. Tudo parecia ter escurecido ao redor, bem clichê, como em filmes. Tudo o que eu enxergava eram seus olhos e depois uma vida.

Em um momento, que durou menos de dois segundos, milhares de sonhos foram compartilhados. Vi emprego, casa, filhos, família. Vi o jantar de uma sexta à noite, os sorrisos, os flertes, os mimos.

Vi aquela viagem que fizemos a dois, que anos depois fizemos a três, talvez a quatro. Vi até a nossa primeira briga, a segunda, a terceira, os choros pelos desentendimentos e os dois se desculpando abobadamente, sem nem ao mesmo lembrar o motivo da briga ter sido iniciada.

E para quê brigar? O mais importante é que nos entendíamos antes de compartilharmos a mesma cama, com travesseiros lado a lado, sonhos sendo compartilhados em uma grande conexão.

Você rindo das minhas piadas ruins quando eu disse que teríamos dois cachorros, um chamado de “Peter” e outro chamado de “Parker”. Unidos eles formariam o cachorro-aranha. E eu nunca vou entender a graça que víamos nisso.

Só sei que o seu sorriso foi a coisa mais linda que eu vi em minha vida, que o seu olhar de obstinação era uma coisa fantástica, que me fazia ter a vontade de ser totalmente a sua base, o seu apoio, e te ajudar a conquistar todos os seus sonhos. Não que você precisasse de algum auxílio, mas apenas para poder caminhar lado a lado com você.

Porém, em um instante, um apito no fundo. Portas se abrem. Você simplesmente vai embora, saindo do metrô, e eu nunca pude nem ao menos saber seu nome, quanto mais compartilhar a vida em que vivi naquele instante…

Henrique Schmidt

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