Sobre viver, eu lhe digo, sobrevivi

Foto: Google.com

Eu não fujo a regra… Também fiz meu balanço de final de ano. Um evento quase automático, programado pela mente que se pôs a fazer somas, subtrações, multiplicações e divisões de maneira independente.

Acho que foi esse ano que eu disse: “Esse ano minha vida vai mudar!”. 

Entendi nos meses seguintes o que significa a tal força do pensamento… As mudanças vieram convidadas ou não, transformando tudo ao meu redor.

Talvez tenha sido nesse mesmo ano que eu disse estar no olho do furacão… Aquele lugarzinho onde depois de ter passado pela turbulência do tufão inicial e ver tudo indo pelos ares, a gente enxerga com clareza as nuvens cinza e carregadas ao redor, o céu azul lá no alto do funil, parecendo tão longe e a gente ali, no finalzinho do cone, apertado, espremido, com medo da tempestade que ainda não acabou.

No olho do furacão é onde a gente enxerga nossa mobília e abrigo indo pelos ares, se desfazendo em pedaços, partes desses pedaços atingindo e ferindo pessoas que amamos enquanto a gente assiste impotente a sequencia de eventos fora do nosso controle.

É bem ali, no centro de tudo aquilo, enquanto a gente se agarra com firmeza em qualquer coisa que nos ofereça um ponto de equilíbrio, que a gente sente vontade de achar uma passagem secreta por onde possa passar ileso e fingir que não foi na nossa vida que tudo se desfez assim, tão depressa.

E depois da tempestade, dizem os antigos, vem a bonança. Depois de tudo ruído e quebrado, o céu volta a ser azul, enquanto a gente senta no meio do deserto que se construiu ao nosso redor e mira o horizonte buscando, forças e um norte para recomeçar. A bagunça é tanta, tem tanta coisa quebrada e perdida para remover do lugar, tem tanta gente ferida para ajudar a cuidar e… Tem tantos ferimentos na gente tentando sobreviver enquanto tudo acontecia…

Mas cessada a tempestade, é forçoso recomeçar. Precisamos de um novo abrigo. Precisamos de mobília nova. Precisamos cuidar dos próprios ferimentos, porque depois de uma tempestade assim, a solidariedade é importante, mas não tão importante quanto estarmos fortes e curados o suficiente para termos condições de auxiliar os demais.

Depois de uma tempestade assim, quando a gente vê alguém ferido por um destroço de uma mobília ou parede que era nossa, vem a culpa. É preciso tratar das feridas internas também, compreender que as tempestades são tempestivas e nada acontece sem um propósito.

Cessada a tempestade, desfeito aquele cone assustador, eu já não me via mais no olho do furacão. Estava recomeçando, reconstruindo cada tijolo da minha vida, erguendo paredes novas para abrigar minha alma. Cuidando das feridas externas, das internas, observando com pesar outras pessoas feridas e tratando dos mais próximos, por quem sentia a responsabilidade de não ter ofertado um abrigo mais seguro.

Agora aqui, observando essa matemática que minha mente se pôs a fazer teimosamente, sinto um cansaço descomunal. Sinto vertigem, talvez porque passei tempo demais girando às voltas do furacão. Sinto dores pelo corpo todo e por incontáveis vezes perdi a coragem de recomeçar… Mas estava cada um por si, na reconstrução de suas vidas e se eu quisesse uma, não poderia agir diferente.

Guardei o cansaço num canto qualquer e com vertigem e ofegante, fui caminhando e trabalhando em passos trôpegos, num ritmo mais lento do que minha capacidade habitual, testando todos os meus limites para te dizer, aqui, no final desse livro de trama tão intensa, que eu sobrevivi.

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O balanço final foi esse. Sobrevivi. Ao furacão, aos ferimentos, aos julgamentos, as chagas auto-infligidas… Sobrevivi. 

Já não é mais tempestade e faz um sol lindo num céu azul turquesa…

Embora eu ainda sinta vertigem e fraqueza, sento no meio da reconstrução do meu abrigo e me sinto orgulhosa, porque sobrevivi. Ganhei musculatura, resistência física, existem dores que nem sinto mais. Não estou pronta para um novo furacão, mas ninguém enfrenta um e vive sem aprender lições valiosas de sobrevivência…

Porque sobre viver, eu lhe digo, a vida todo dia é um capítulo de um enredo que a gente escreve e às vezes, vai transformando em tempestade, vai se transformando no tempo, vai se testando, vivendo de verdade…

E eu que não fujo a regra me despeço desse livro muito mais rica, cuidando das feridas enquanto caminho em direção a um livro novinho, cheio de páginas em branco, de caneta em punho, desejando escrever nele sobre a primavera que se instalou no solo encharcado, depois que a tempestade passou.

Sobre viver, eu lhe digo, sobrevivi.

Luciana Marques

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