“Siga o baile”

Foto: https://weheartit.com/

Era um dia qualquer, fresquinho como todos os dias da primavera vinham sendo. Aquele sol escaldante, mas uma brisa boa que refrescava rosto, corpo e pensamento. Enquanto seguia minha rota diária, apreciava as flores das árvores que haviam pelo caminho, no meio de tantas construções. Sabe, eu faço isso todos os dias, mas parecia que a cada dia elas ganhavam mais vida. E neste dia, parei para reparar que não eram as flores quem estavam mais vivas, era eu quem renascia diariamente e as enxergava com mais cor. Sinal que estava conseguindo seguir em frente.

Quando nós terminamos, eu perdi a rota da minha vida, não sabia para que lado corria. Foi quando uma velha amiga me deu o seguinte conselho: siga o baile”. A questionei o que era o famigerado seguir o baile, e ela me disse que conforme passassem os dias, eu aprenderia a dançar o ritmo dele. Baile é da época da minha mãe e foi aí que me lembrei que quando meus pais se separaram, ela seguiu a vida dela fazendo tudo aquilo que, com ele, ela não realizava. E assim, a dor da separação se tornou menor. Foi o que fiz.

Para calar a música triste que sua saudade compôs e insistia em tocar repetidamente no meu coração, eu fui em busca de algo que compusesse, dentro de mim, músicas alegres. Arrumei um trabalho na minha área, comecei a gostar mais de mim, a me cuidar, a estudar mais e pouco a pouco, a música foi se calando e as lágrimas cessando. Foi difícil dar o primeiro passo, mas quando vi já estava inventando novos passos no baile que minha vida se tornou. Claro que tinha horas que eu errava o passo ou me desequilibrava — sou de carne e osso — pensava em você e na gente, mas me recompunha e continuava de onde tinha parado.

Voltando ao dia em que citei no primeiro parágrafo, parei, enquanto ia para o meu curso, na minha cafeteria preferida — precisava de um café, pois o dia havia sido puxado — e pedi um para viagem. Me virei para escolher um donut e esbarrei em alguém. Quando olhei para me desculpar, era você. Com sua jaqueta de couro — que você a usa até em dias quentes — aquela sua camiseta do Harry Potter surrada, calça jeans rasgada e tênis, que já está pedindo arrego. Seu jeito despojado não mudou nesse tempo. Demos um sorriso amarelo e um “oi” bem sem graça. Peguei meu café, acenei e fui embora. Tenho que confessar que não via a hora de sair daquele ambiente, daquela situação, daquele momento e de perto de você. Dei um gole no café assim que pisei na calçada — precisava engolir meu coração que estava na garganta pronto para pular em cima de você.

Pensei em você durante toda a aula e sua imagem não saia da minha mente nem por um segundo. Aí me lembrei das flores vivas que, no meu pensamento, estavam tão cinzentas, do tempo que segui o baile sem esbarrar em você e me dei conta, que tinha sofrido uma queda. Caí e esqueci os passos quando te vi. Não me recompus com facilidade e as músicas tristes e alegres, aqui dentro, se calaram. O tempo lá fora também mudou. Quando saí, para ir pra casa, começou a chover forte. Sorte a minha de estar sempre preparada e deixar guardado no armário dos alunos, uma jaqueta e um guarda-chuva. E azar o meu de ser sempre preparada para tanta coisa, menos para te ver. Durante o trajeto, minhas lágrimas caiam junto com as gotas da chuva.

Conclusão: este foi o dia em que meu baile silenciou. Não era o que eu queria, acredito que nem você, mas a vida tem dessas. Por mais que tenha me feito mal, o baile tem que seguir né? E talvez, um dia, a gente se esbarre novamente. Mas da próxima vez, espero não esquecer que comecei a enxergar a vida mais viva nesse tempo. E esbarrar em você, não silencie, nunca mais, o meu baile — que tão bem segui até aqui sem você.

Giovanna Sabrine

Fonte da Imagem: WeHeartIt

Compartilhe:
Rolar para cima