Pessoas inconvenientes

pessoas-inconvenientes

Vinte e três de março de 2014. Estou andando na rua, totalmente pensativa, cheia de livros e no fone tocando aquela música bem introspectiva, como de costume. De repente: “Oi Flávia tudo bem?” Levantei os olhos na maior rapidez. O susto foi tão grande que eu pensei que fosse um assalto. Mas, não era. Foi a Carol e sua mania irritante de assustar as pessoas. Por um momento eu considerei: “como eu preferia que tivesse sido um assalto”, mas logo lembrei que acabei de comprar um celular e nem paguei a primeira parcela ainda. Então, só me restava ter que aturar as conversas chatas da Carol.

Tudo fluía levemente e, embora eu estivesse com um pouco de pressa, fiquei conversando com ela por alguns minutos — afinal, tinha muito tempo em que só nos “víamos” pelas redes sociais. Um beijinho para cá e outro para lá. Despedimo-nos com a intenção de cada uma continuar o seu caminho. Até que a Carol inventou de contar a última novidade: “Sabia que o Lúcio está namorando? Nunca pensei que viveria para ver tal feito. Mas enfim, ele está namorando e vai casar.”

As palavras dela soavam com tanto desdenhe que foi impossível não revirar os olhos enquanto ela falava. Se bem que isso é mais forte do que eu, sempre. Ouvi atentamente todas as críticas e considerações que ela fazia, quando, de repente, surge a pergunta: “E você Flávia está namorando?” Gelei na hora. Mas respondi que não. Ela riu como se não soubesse e começou a falar um monte.

Gente, hoje em dia com as redes sociais denunciando tudo da nossa vida é impossível que ela não saiba. Afinal, tem tanto tempo em que não posto foto com alguém, nem saio para um encontro. Tanto tempo em que não publico nenhum texto explicitando toda a minha felicidade em ser amada. Que eu acredito que ela tenha feito essa pergunta de propósito. E eu estava certa.

Ela começou a disparar que achava o cúmulo eu permanecer encalhada nesses três anos, mas que não era para que me preocupar, pois, se até o Lúcio com quase 35 anos conseguiu encontrar alguém e iria se casar, comigo não seria diferente. Respirei fundo e segui o conselho dos pinguins de Madagascar: sorri e acenei, enquanto fazia cara de paisagem.

Tudo bem que eu não ligue para esse assunto e pouco me importo com o quesito idade versus relacionamento, mas será que ela não poderia ser um pouco menos inconveniente? Existem pessoas que se importam e assuntos como esses acabam mexendo com o psicológico e desestruturando aquele alguém, que talvez, tenha feito de tudo para não pensar a respeito e viver uma vida tranquila, sem a ansiedade do ter alguém.

Mas quando você lança uma pergunta dessa e de surpresa, não tem como a pessoa não entrar na bad. E a questão em si nem é a pergunta, mas as indagações que são feitas. Como se você precisasse viver de acordo ao relógio imposto pela sociedade. Onde ter 26 anos implica estar namorando, ou preferivelmente, casada.

Se você é esse tipo de pessoa que faz perguntas inconiventes do tipo: “quando vai casar, ter filhos, quando vai fazer uma faculdade, quando isso e quando aquilo” o meu conselho é que você não seja assim. Além de se tornar alguém chato, você entra em um espaço que não é seu. Pessoas tem seu próprio tempo, seus motivos e suas razões e talvez elas não queiram ser interrogadas por isso. Pense a respeito e não seja desagradável. Só converse sobre isso se perceber que tem espaço. Caso contrário, guarde seus comentários para você ou para fofocar com outro alguém que não tenha o que fazer, além de cuidar da vida dos outros.

Vanessa Pérola

Compartilhe:
Rolar para cima