Partir também é um ato de amor, amor-próprio.
Não sei o que houve com o casal de anos atrás, nós éramos aquele tipo de casal que não se desgruda, que se olhava o tempo todo, que contava as horas no relógio para um encontro em uma praça.
Lembro da nossa loucura compartilhada, banhos de chuva, horas em uma conversa, trocávamos fotos das coisas interessantes que apareciam em nosso cotidiano só para que o outro pudesse se deslumbrar também, compartilhávamos tudo, sonhos, segredos, prazeres e a ideia de uma velhice em uma casinha simples.
Ficamos cada vez mais mudos, nada aconteceu, não brigamos, não trocamos ofensas, não traímos, algo misterioso aconteceu e isso dói. E parece que estar juntos virou uma traição, estamos traindo a nossa felicidade individual.
No fundo eu não queria ir, mas nós dois precisamos das intensidades. Precisamos sentir o pulsar da vida, é preciso admitir que não deu certo, ou melhor, deu muito certo.
Alguns amores são eternidades que ficam gravados em nós, feito uma tatuagem que o tempo fez em nossa pele, alguns amores serão a arte em um museu que iremos visitar.
Adeus.