Vai e vem, eu volto
*Voltava…
Consegui resistir alguma vez?
Alguma vez me ausentei?
Permaneci, em pensamento, desejo e saudade. Não desliguei, não esqueci. O ego me prendeu. Acho que o problema todo é o ego, um coração nem é capaz de se partir assim, tantas vezes, mas o ego consegue sentir-se ofendido com coisas pequenas, roubar o protagonismo de tristezas genuínas e me confundir a ponto de dar nobres títulos aos sentimentos rasos e mesquinhos. Chamar a carência de saudade, o costume de amor.
Ou, talvez, o que me manteve refém é essa versão de mim mesma que só existe quando estou perto de ti. Inspirada, capaz de tirar poesia de onde nunca existiu. Versão apaixonada e aventureira, que não encontra negativa plausível para não levantar da cama de madrugada ou te negar um beijo de elevador.
Versão que desperta coisas boas, em uma proporção onde geralmente compensa o coração dolorido quando vais embora, e se não compensa, tu mesmo consegues curar quando volta pra mim, desaparecendo com a memória ruim, trazendo de volta as borboletas na barriga. As borboletas me prenderam. Toda essa agitação que acontece aqui dentro quando ouço tua voz. Imatura, presa à sensações.
Eu me fiz refém quando acreditei cegamente que és a única pessoa que me conhece de verdade e me aceita por completo, com erros e imperfeições. Errei em acreditar que me aceita. Erro em acreditar na existência de verdade entre nós.
Fui prisioneira de algo que nunca existiu e imaginei ter enxergado por um ou dois instantes. Presa à esperança de fazer desses instantes minutos inteiros. Presa àquela velha dúvida de não saber o que sentes, à vontade ser heroína e traduzir teus pensamentos. Me tornei dependente daquele teu ótimo personagem que me fazia baixar a guarda e confiar. Presa pela confiança e pela liberdade.
Em nosso limitado horizonte eu me julgava livre quando estavas aqui. Uma liberdade amparada e incentivada, que me escravizou à essas migalhas de coisa nenhuma que de me entregavas de bom grado.