O que é um futuro da hora pra você?

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Não sei se já comentei isso aqui, mas já faz oito anos que eu sou mesária na mesma seção eleitoral.

Ser mesária não é a melhor coisa do mundo, vocês devem imaginar. A eleição é em pleno domingão, a gente precisa estar lá às sete da manhã e só sai depois de imprimir os boletins de urna, organizar a sala, guardar o patrimônio numa caixa de papelão e entregar tudo para o pessoal da Justiça Eleitoral. Normalmente o fim de semana da eleição é meio perdido (foi-se o tempo em que eu conseguia ir virada), mas como quase tudo na vida, ser mesária também tem lá o seu lado bom.

Além de ser divertido digitar o número do título na maquininha e se sentir brincando de caixa registradora, é gostoso ver gente, sabe? É bom falar bom-dia e dar um sorrisinho dominical para as pessoas que vão lá votar. Vira e mexe rolam umas grosserias gratuitas, é verdade, mas a maioria das pessoas é bem gentil. Isso é super legal.

Na minha última eleição aconteceu algo interessante. Um senhor foi bem estúpido comigo depois de eu pedir um documento com foto para ele, e como eu sou meio sensível demais a grosseria, fiquei bem triste com a patada. Fiquei triste mas logo passou.

Era mais ou menos meio-dia quando um casal de velhinhos chegou para votar. Os dois vestiam conjuntos de moletom quase iguais. O dela era cinza-mescla e o dele azul clarinho, ambos com aquele elástico branco prendendo o tornozelo. Aquilo me parece um pouco incômodo e deixa a roupa meio pega-frango, mas juro que eles estavam a face do conforto e bonitinhos demais.

Sorridentes, os dois chegaram de mãos dadas e contaram para a fila inteira que foram até lá caminhando. Um dois quilômetros, eles disseram. Uma boa caminhada segundo eles. Estavam cheios de orgulho. Disseram que deu para suar.

Fiquei impressionada com a simpatia do casal. Eles estavam tão alegres que até mudaram o clima da última grosseria que pairava no lugar. Parecia que eles tinham acabado de sair de um comercial da Prevent Sênior, juro pra vocês. Comecei a observar atenta porque era até meio caricato. Gostoso de olhar.

Ela entrou para votar primeiro e se despediu dele, que ficou na porta esperando, com um beijinho cheio de carinho. Sorriu para mim e perguntou se eu estava com fome. Respondi que ainda não e ela disse que já estava. Disse que não via a hora de ir almoçar. Me contou em trinta segundos que todos os domingos eles almoçam no mesmo restaurante há muitos anos. Não deu tempo de saber qual é o restaurante mas só consigo imaginar um daqueles lugares de comida farta onde um garçom bigodudo tem a estranha habilidade de servir macarrão segurando um garfo e uma colher com a mesma mão.

Depois dela votar – bem rápido, diga-se de passagem – ele entrou, votou e foi igualmente simpático. Se despediram carinhosamente, disseram “até o segundo turno”, deram as mãos novamente e foram lá almoçar.

Enfim… Só contei isso mesmo porque estava na maior discussão filosófica sobre a vida agora há pouco até que um amigo perguntou qual é meu grande objetivo na vida. Fiquei meio em dúvida, pensei no livro que eu quero escrever, fugi da pergunta, me senti meio piegas, meio clichê, meio romântica e até meio inocente demais.

Mas sabe, não consigo parar de pensar… Que da hora o moletom. Que da hora o restaurante. Que da hora o beijinho carinhoso e o garçom bigodudo. Que da hora aquele casal!

EOH

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