Já não se fazem príncipes como antigamente

Quando eu era mais nova, lia os Contos de Fada, e achava fascinante o príncipe se esforçar tanto para estar com sua princesa. Eu ficava imaginando como seria quando aparecesse o meu príncipe, sabe?! Ficava idealizando o dia em que ele apareceria na minha vida, e eu descobriria o que significa o verdadeiro sentido de amar… de ser amada. Ficava pensando no que ele faria para valorizar o meu coração, para valorizar o meu amor.

O que ele faria para merecer tudo de melhor que há em mim.

Nas histórias que lemos, é tudo tão simples… os sentimentos são tão suficientes. Os príncipes não tem medo algum de admitir o que sentem pela princesa, e lutam pelo seu amor. Não se importam com a opinião dos amigos, não se importam com que os outros vão dizer, eles simplesmente lutam contra dragões, contra tradições, contra rivalidades de famílias. Eles lutam, para ter aquela pessoa que amam, ao seu lado. Lutam para ser o motivo de elas estarem sorrindo. Lutam para ser aquela pessoa que vai estar contigo, cuidando e te apoiando quando você precisar. Lutam para ser a pessoa que vai segurar sua mão, quando você sentir que vai cair. Lutam para ser aquele que vai sentar ao seu lado, ficar em silêncio, te abraçar, e nesse momento, sem dizer uma palavra, vai falar tudo aquilo que você precisa ouvir.

Nos contos de fadas os príncipes lutam para merecer estar com suas princesas, lutam para fazer com que elas sejam felizes ao seu lado.

Os anos passaram, eu cresci, e percebi o quanto é ridículo acreditarmos que nossas vidas serão tão bem arquitetadas, quanto são para as princesas. A vida me estapeou cruelmente, com a realidade, me mostrando que no mundo real, só aparecem sapos. Nada além de sapos.

Para começo de conversa, eu não tenho nem vocação para ser princesa. Falar baixo, ter um andar calmo, cantar pros passarinhos da floresta e ficar babando num príncipe, por uma janela no alto de uma torre, definitivamente não é o meu forte. Até porque, vamos combinar que seria muito mais divertido descer da torre, do que ficar fazendo o rapaz subir até lá.

Justamente por isso, o que mais me dói, é saber que eu posso não me enquadrar nesse estereótipo de princesa indefesa, mas que tenho tantas outras qualidades que fazem de mim uma princesa muito boa, que nunca ninguém vai descobrir, simplesmente porque não se encontra mais, príncipes dispostos a conhecer a princesa que você é.

Pô, por que não levar o príncipe para tomar uma cervejinha num domingo à tarde? Apostar uma corrida de cavalo, e quando chegarmos ao ponto final, nos jogarmos numa poça de lama, e ficarmos lá até os dois se darem conta que possuem alergia? Quem disse que só o príncipe pode ficar com a parte legal? Eu adoraria lutar com uns dragões pelo caminho.

Acontece que em todos os meus Contos de Fada, aqueles que deveriam ser meus príncipes, nunca se esforçaram minimamente para chegar ao segundo capítulo da história, e nunca descobriram nem metade da “princesa” que posso ser.

É a geração do desapego a nova moda né?! Por que permitir sentir algo mais intenso por alguém, sendo que você pode sentir nada por várias outras pessoas?!

Se antes os príncipes prometiam amor eterno, quando acabou de te conhecer (confesso que achava isso um pouco exagerado, mas isso não vem ao caso), hoje em dia, ele pode conhecer tudo que você é, pode saber absolutamente tudo que você é capaz de ser, e não ser suficiente. Príncipes se contentam em dividir suas vidas com sua princesa, já os sapos, precisam passar pelo maior número de “brejos” possíveis, para ter a certeza que não vai encontrar nenhuma princesa melhor pelo caminho.

Confesso, que não sou do tipo de garota que fica sonhando acordada, sentadinha, esperando meu príncipe vir a cavalo, mas não posso negar que espero que chegue um dia, em que a gente se esbarre em algum momento oportuno. Que ele me faça entender, que só vou saber valorizar o príncipe que ele é, justamente por ter conhecido tantos sapos pela minha vida.

No fim, eu agradeço a todos os sapos que me fizeram ser quem eu sou hoje.

Acho que é para isso que os sapos existem, afinal. Para nos ensinar a dar valor para o que, e para quem realmente importa. Afinal, como vamos saber se o príncipe, é de fato, um príncipe se não tivermos a certeza que ele não é um sapo?!

Diandra Ferracini

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