Há feridas que nunca curam, apenas se esquecem de doer.

Assim como há lembranças que não se apagam, existem amores que nunca deixam de latejar. E, ainda que tentemos manter o controle da saudade, ela bate na porta ou toca a campainha quando menos estamos esperando. A falta é uma visita que não precisa de convite para se fazer presente e aparecer, ela é intrometida, invasiva e não dominável.

E aqui estou, desabafando de um amor que foi, mas ficou em mim. Escrevendo para me consolar diante de toda essa dor, declarar os meus verdadeiros sentimentos e tentar aliviar a angústia que corrói o meu coração. Francamente, não está sendo fácil ficar sem você e preencher, aos mínimos detalhes, os espaços que ficaram vagos quando você partiu. Acho que, dessa vez, o tempo não foi o nosso aliado, e eu sinto tanto por isso. Certo dia, me falaram que é preciso viver a solidão para mensurar a importância de alguém em nossas vidas, e você me comprovou isso.

Estou bem, talvez não como antes, mas estou bem. Hoje, tudo bem sentir saudade. Aprendi, nesse tempo longe de você, que saudade é a alma sussurrando no ouvido sobre tudo aquilo que valeu a pena. Nem tudo nessa minha situação precisa ser trágica. A saudade simboliza a felicidade que não voltará a acontecer. O menos pior de tudo isso, é que a saudade não mata ninguém. Muito pelo contrário, ela nos mantém vivos e latejantes. Com o passar dos dias, a saudade no peito ainda existirá, mas de forma diferente. Dessa vez, com uma consciência da falta que ficou, de quem foi e não voltará, por decisão própria.

Acordei pensando nos poucos e memoráveis momentos que passamos, a nostalgia contornou a minha racionalidade. A emoção dominou a minha mente e o meu corpo. Lágrimas escorrem sem o meu consentimento. Me desfaço em uma amargura que nunca senti antes. Na minha cabeça, uma vontade absoluta de largar todo o meu orgulho e ir onde você estiver, declarar, olhando nos seus olhos, tudo o que esse texto está traduzindo. Mas quando o café acaba, tudo esfria aqui dentro. A realidade volta à tona me dando um tapa na cara, me lembrando que quem jogou tudo para o alto e foi se aventurar em outros beijos, não fui eu.

Por fim, compreendo que a saudade é algo que ficou de alguém que partiu, e não levou tudo o que pertencia. Sendo assim, eu não era para você. Eu poderia finalizar, te pedindo para ficar e fazer morada de concreto onde você só investiu fogo de palha, mas não vou. Você já fez a sua escolha, e eu já fiz tudo o que estava ao meu alcance para te ter ao meu lado e, mesmo assim, os meus motivos não foram suficientes para que você permanecesse comigo.

Sinto muito, mas amor não se implora. Você vai entender o que estou querendo te dizer, quando encontrar a pessoa certa, em teoria, e ela te desprezar da maneira mais cruel que o ser humano é capaz na prática. Portanto, não há nada mais a ser feito. Quando um não quer, dois não ficam juntos. Eu já quis espernear, sair gritando o seu nome nas ruas, sair correndo para te encontrar. Aprendi, de uma vez por todas, que quando o amor não é dado livremente, não devemos ficar presos, gratuitamente, nele. Eu não posso fazer a sua parte, assim como eu não posso querer por você.

Dou uma pausa, respiro fundo e volto a sorrir. Ergo a cabeça e sigo em frente. Mesmo sem saber qual caminho percorrer, sei que o melhor está guardado para mim. Se tudo o que eu te ofereci, eu receber em troca, reafirmarei que a reciprocidade existe. E, mais do que isso, que a lei do retorno é a melhor das vinganças.

Não se esqueça: o chão que você pisa é o mesmo que te apoia…

O que para você é desprezível, para outro alguém será agradecimento.

 

Jéssica Pellegrini

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