Foi preciso me lembrar para poder esquecer

É engraçado como se acha receita para resolver qualquer problema na internet. Dicas de como agir, o que fazer, o que pensar, que comportamento ter. Mas sinceramente nunca me encaixei em nenhuma delas. Acho que no fundo, mesmo que ainda não saibamos, cada um tem sua própria receita de como levantar após uma queda.

Não adianta ler 5 passos para consertar um coração partido, ouvir conselhos das pessoas ao seu redor, conhecer histórias de superação, fazer promessa ou tentar se forçar à alguma situação. Pelo menos não para mim.

Sabe como eu te esqueci? Não foi tentando te esquecer, porque isso eu tentei, mas não por muito tempo, pois logo percebi que não ia dar certo, foi me lembrando.

Eu me lembrava de você sempre. Me lembrava dos momentos que vivemos, das nossas risadas, das conversas sérias, dos planos. Me lembrava de você quando via algo que gostava ou quando eu via algo que eu gostava e queria compartilhar contigo como antes fazia. Me lembrava de você nas letras de canções, em filmes ou livros.

Me lembrava de você em cada canto de casa, em cada esquina, cada sorriso parecido com o teu. Me lembrava de você relendo conversas antigas, vendo fotos ou abrindo minha caixa de cartas. Me lembrava de você ao acordar e antes de dormir. Me lembrava de você sempre, todos os dias, o dia todo e mesmo quando eu ia dormir você fazia parte dos meus sonhos.

E foi assim que eu te esqueci, me lembrando e revivendo tantas vezes a nossa história.

E o que eu fazia quando me lembrava? Bem, eu me permitia chorar. Dizem que a dor precisa ser sentida e eu me permiti sentir, não para que as pessoas tivessem pena de mim, até porque esses momentos de choradeira eram apenas meus, mas porque essa era uma maneira de me libertar aos poucos de você. Então quando a tristeza e a saudade eram grandes demais para caber dentro do peito, elas escorriam pelos olhos.

Quando era possível eu falava sobre você. E meus amigos estão de prova do quanto eu falei, falei e falei até me cansar. Eu precisava, mesmo sabendo que isso era um fardo para eles. E eles escutavam, pois sabiam que aquilo era necessário para mim, mesmo que eles não entendessem.

Quando você resolveu partir doeu. Doeu muito. Machucou demais. E por dias, semanas, meses eu chorei. Nunca entendi porque tinha que ir, mas respeitei a tua escolha de não querer ficar.

Depois de um tempo, percebi que aquela ferida cicatriza, ela se fecha em algum momento e então é suportável respirar novamente. Claro, a cicatriz sempre estará ali para me lembrar da nossa história, mas posso conviver com isso, até porque sempre soube que não teria como te apagar da minha vida. Todos nós carregamos cicatrizes que no fim acabam nos tornando mais fortes de alguma maneira. Acredito que todos que passam por esta vida não estão ilesos a elas.

Mas hoje, consigo olhar para trás e ao invés de chorar com uma lembrança nossa eu consigo sorrir. Sei que aquilo foi real, sei que aquele momento já perdido na eternidade me fez feliz. Demorou, mas finalmente eu consegui chegar onde eu gostaria.

E foi assim que eu te esqueci. Acho que minha cabeça cansou de lembrar e meu coração cansou de sentir de tão constante e presente que você foi mesmo depois de partir. Aquele amor foi diminuindo e se transformou em carinho por alguém que foi importante em um momento do meu passado.

Deletei as memórias ruins, guardei as boas.

De vez em quando ainda abro a caixa de cartas ou olho nossas fotos. E ainda me pergunto qual propósito teve a nossa história, talvez um dia eu obtenha a resposta, talvez não. Mas depois de tanto tempo consegui novamente paz para meu coração. E embora te amar tenha sido doloroso no final, foi também uma aventura inesquecível.

Stéfani Souza

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