Estou me acostumando a viver sem você. A viver sem nós.

Ando por aqui revendo aqueles planos antigos, fazendo um esforço para ver no passado lembranças tão presentes.

Tudo está no mesmo lugar que deixamos. Os móveis só se encaixam naquela disposição que decidimos juntos como deixar. Eu ainda sento no mesmo lugar à mesa, como se você estivesse logo ali e fosse ocupar seu cativo lugar…

Você tinha razão ao escolher esse lugar pra morar. O silêncio é reparador e despertar com o farfalhar das folhas ao vento sempre me traz uma paz cheia de saudades.

Ontem passei por aquela rua onde te disse que queria morar um dia… Estão construindo um prédio lá. Seria a junção perfeita para nossas personalidades. Pensei em te avisar pra gente ver o preço… Mas você não está mais aqui.

Olhei as fotos que ficaram nas mesmas gavetas. Me deparei com o registro triste da realidade… Meus olhos sorriam com a perspectiva do futuro. Os seus brilhavam com o que estava acontecendo no presente. Eu te puxava pra mim… Você se deixava levar…

Está difícil processar a informação de que você já havia partido muito antes daquele dia. Que eu estava vivendo das expectativas sobre nós dois. Que nunca enxerguei suas expressões em nossas fotos, talvez nunca tenha te enxergado de fato. Talvez tenha desrespeitado suas vontades, tamanha era a realização que eu sentia na vida que a gente tinha.

Hoje estou aqui me ofendendo com as pessoas que dizem que somos parecidos. Eu quis te odiar quando tudo acabou e nem de longe quis ter alguma semelhança com você. Mas parece que depois de tanto tempo, ficamos igual aqueles donos que ficam parecidos com os cachorros. Que ironia, não?

Você não vai voltar. E eu não sei se conseguiria viver com a pessoa que você era quando estava aqui. Também não sei se você poderia mudar. Não sei se eu poderia mudar pra ser mais como você esperava. São muitas incertezas agora… Às vezes me parece que tudo era perfeito como era antes. É quando a saudade aumenta… E sabe o que dói?

Não sei do que sentir saudade… Não lembro de um abraço surpresa, de um carinho voluntário, de um desejo… Mas lembro de horas intermináveis sentados a mesa conversando no domingo de manhã. Das suas gargalhadas para as piadas idiotas na TV, do seu medo de aranha e de injeção.

Lembro de ter que segurar sua mão na enfermaria enquanto era suturado, e de como você organizava bem o carro para as viagens. E eu já não sei mais o que é realmente importante… Se eu sinto saudades ou sinto o costume…

Agora estou aqui, só. Fiquei com as coisas que você não terminou, com tudo o que deixou pra trás. Fiquei com a mágoa de você. Por que você não pode me amar? Fiquei com o sentimento de culpa, porque acho que te obriguei a permanecer.

Eu não sei mais de nada… Andei cometendo uns enganos pra suprir todas as carências que deixei crescer em mim. Não é culpa sua… Vai ver não é minha, também. Não é culpa de ninguém.

Nós protagonizamos mais uma história tão igual a outras em que as expectativas do para sempre eram grandes e o fim, inimaginável… Até que ele chegou… Meio com cara de vírgula, mas com todas as características de fim…

Ninguém se encaixa aqui nessa minha vida. Descobri que as pessoas não são substituíveis. Nem todas. E que as expectativas e necessidades são bem distintas de pessoa para pessoa. Por isso, nossa história teve essa ruptura… E eu fiquei com o que ficou… Tudo pausado. Removi a poeira e fiquei bem aqui, com o velho, tentando entender porque não sento na sua cadeira, ou deito no seu lugar no sofá…

Talvez eu saiba a resposta, mas agora ela já não importa mais… A vida seguiu… E quase tudo virou saudade. Algumas coisas ainda estão se transformando… E algumas talvez nunca mudem…

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