E então eu olhei pela janela do carro, esperando ver o sol, esperando que cada raio me aquecesse. Esperando que cada partícula de calor que inundava meu corpo me dopasse suficientemente a ponto de me fazer esquecer. Esquecer dos dias, das semanas, dos meses, do ano que passamos. Me fizesse esquecer do seu cheiro que impregnava várias de minhas blusas favoritas, me fizesse esquecer de sua blusa guardada no fundo do meu armário.
Era difícil me deitar na cama em que dormíamos, ela me trazia a lembrança de todos momentos bons, de como ele se importava de qual lado da cama eu preferia ficar, das vezes que eu tinha pesadelos e ele me abraçava forte e ficava acordado comigo resistindo ao doce som do chover lá fora.
Era difícil escutar músicas, afinal, qualquer mínima frase que falasse sobre amor, já me trazia sua presença novamente. Era mais difícil ainda lidar com o silêncio, o mesmo abria portas para os gritos da minha consciência implorando para ele voltar. Então, eu escutava a música no último volume, tentando inutilmente ensurdecer minha dor.
Eu queria chorar, gritar, e implorar para que ele voltasse e para que não me deixasse de novo. Mas eu não fazia isso, o silêncio que se instalara em minha fala permanecia forte e não se abalava pelos gritos dolorosos da minha alma.
Os gritos imploravam ter ele de volta, ter seu abraço, ou pelo menos a honra do último beijo. Mas nosso último beijo aconteceu há muito tempo atrás e eu não teria mais o prazer de sentir a euforia dos meus pensamentos, as batidas fortes e ritmadas do meu coração, as famosas borboletas no estômago, cada vez que seus lábios vinham de encontro aos meus.
Caminhei até a parte da praia na qual eu martirizava ainda mais a falta dele, e me sentei no banco da casinha de observação dos salva-vidas. E então sua falta pesou mais que nunca em minhas costas, era a primeira vez que eu tinha coragem de ir lá, de encarar as conseqüências dos meus atos e o peso das escolhas que fiz para mim, escolhas que me trouxeram até aqui, de coração partido. Sim, aquele era o exato lugar do pedido mais importante da minha vida, pedido no qual ele esqueceu quando foi embora.
Olhei para a madeira envelhecida da casinha e vi nossos nomes grifados na mesma.
– O que você fez com a gente? – perguntei a mim mesma secando as insistentes lágrimas fujonas.
Fiquei lá, esperando inutilmente que ele aparecesse e me falasse que tudo o que aconteceu não passou de uma das crises doidas dele, fiquei esperando aquele abraço aconchegante que só ele me proporcionava, e aquela linda voz aveludada me dizendo “tudo ficará bem”, mas no fundo eu sabia que isso não tornaria a acontecer.
Ele se foi por ironia do destino, que agora zomba da minha cara. Ele se foi por ter decidido abrir mão do nosso amor, e pior ainda, ele se foi e não vai mais voltar, e em qualquer lugar que ele esteja meu coração estará sempre com ele.
Vivian Hannauer
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