Desabafo de uma garota que se achava feia

Foto: Unsplash

Eu não me lembro de como eu era.

Evitava ao máximo olhar para o espelho. De manhã, considerava apenas em tirar os nós dos fios, sem me concentrar no reflexo. Deixava-o solto, uma cascata escura sobrepondo camadas de tecidos largos. Eu não gostava daquelas roupas, mas não queria que vissem meu corpo. Que reparassem em algo que eu odiava.

Minha pele era vermelha e irritada. Não havia nada que pudesse fazer a respeito e isso apenas piorava tudo. As garotas das revistas eram perfeitas. Elas não tinham espinhas, pele oleosa ou marcas. Eram perfeitas, lisas, finas como seda e incrivelmente delicadas, como princesas reais. Era assim que eu deveria parecer. Não com… Isso. Não assim.

Tinha dificuldades de enxergar a lousa, mas me recusava a usar óculos. Não queria me sentir ainda pior. Forçava a vista para enxergar as palavras e decifrar os números. Se não entendia, não perguntava para ninguém. Não queria que ninguém olhasse para mim.

Eu não sorria. E se vissem meu aparelho? Ainda isso para piorar minha aparência. Garotas bonitas têm dentes alinhados, perfeitos, brancos, imaculados em um sorriso harmônico. Não se pareciam com o meu. E como seriam? Elas eram bonitas.

Elas eram lindas.

E eu? Eu era feia.

Não estava no padrão de beleza. Nunca estive.

E isso significa que sou feia não é? Que ninguém jamais ia me achar bonita.

Nem eu poderia?

Eu teria que me odiar por não estar nos padrões impostos?

Recentemente eu me questionei sobre isso. Analisei minhas “falhas” no espelho, indagando se eram mesmo falhas. Eu poderia amar uma pele que não fosse lisa? Poderia amar minhas sardas, apreciar seus sinais ou seu tom constantemente avermelhado? Gostar de um rosto mais largo?

WhatsApp Me Apaixonei

Acesse nosso canal no WhatsApp e receba dicas de relacionamento, frases de amor e citações para todos os momentos!

WhatsApp Acesse Agora

Amar alguém que não parecia com nada com uma garota na capa de revista?

Eu poderia me amar mesmo assim?

Toquei meu rosto enquanto pensava nisso. Cada marca, cada sinal, tudo ali me tornava… Eu. Meu rosto era uma marca física da minha história e quem eu era. Poderia não ser perfeita para o mundo, mas e se conseguisse ser perfeita o suficiente para mim?

Aquela no espelho era eu. E eu era única.

Meus lábios poderiam sorrir genuinamente. Poderia demonstrar uma felicidade e um amor que apenas eu poderia expressar.

Eu poderia olhar o meu rosto e me sentir bela?

Poderia me amar?

Só existia uma pessoa que tinha essa resposta: eu.

E apenas hoje percebi que sim, eu poderia.

Vanessa Silvana

VEJA TAMBÉM:

Uma carta para o homem que eu escolhi para casar

Compartilhe:
Rolar para cima