A dependência terceiriza a realização pessoal.

Como desapegar de um herói? Como retomar as rédeas de sua pátria, e salva-la você mesmo? Como retirar o pedestal que, inconscientemente colocamos em nossos exemplos de humanos perfeitos, e devolvê-los ao chão que pisamos?

Que tarefa dolorosa é desconstruir o que nossas projeções, teimosas, arquitetam diariamente. Ver que, no fim das contas, somos todos falhos, descartáveis e substituíveis, sem exceções. Que tarefa dilacerante é abandonar o olhar da “exceção”, e moldar nossos pensamentos e sentimentos a terem a imperfeição como lei intransgressível.

É normal essa sensação pesada, quando reencontramos o fardo que é alcançar nosso próprio paraíso e combater nossos próprios demônios.

É preciso colorir com marca texto neon a diferença entre Precisar e Depender. Enquanto o primeiro demonstra nossa humanidade e fragilidade, nos colocando em pé de igualdade, a dependência tem como principal objetivo, aprisionar. Prisão, seja para o carcereiro ou prisioneiro, permanece sendo uma prisão.

Uma relação que não está a serviço de potencializar talentos e suavizar defeitos, mas sim para alimentar os medos parasitas, que confundem a liberdade e a independência com a tão assustadora solidão.

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A dependência terceiriza a realização pessoal. É uma escritura registrada em cartório, com assinatura de mais três testemunhas, que conferem ao outro o imerecido privilégio de viver, e modificar, o nosso universo. Quantas vezes lhe parecer necessário, e quando lhe parecer necessário.

E aguentamos, quebras e remontes, construções, reformas; em silêncio. Pacientes, cegamente confiantes de estar a um ou dois passos da sonhada perfeição, que encaixa num conceito externo de perfeição, que não enxerga e não respeita os limites de nossa estrutura, e segue levantando um andar em cima do outro.

Seguimos resistentes e confiantes que nossos heróis possuem amor e sabedoria para moldar quem devemos ser e o dia que devemos ser. Confiantes de que a dependência, em algum idioma signifique “menos pior do que a solidão”

Deborah Anttuart

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