Quem diria que em um grupo numa rede social, no outro canto do país, existia uma pessoa tão especial? As palavras trocadas diariamente começaram a parecer próximas, uma conexão foi estabelecida e nada parecia faltar.
Não se conheciam através de olhares, mas por palavras. Cada vírgula fora do lugar não passava desapercebida. O abismo que os separava era o mesmo que os aproximava. O silêncio em momentos inoportunos demonstravam diferentes sentimentos, impossíveis de serem demonstrados através de palavras.
Cada texto que compartilhavam um com o outro era um pedaço de sua alma deixada exposta. Cada sentimento demonstrado era um pedaço do coração dividido e cedido. Não tinham proximidade física, não conseguiam trocar olhares, mas a alma se aproximava a cada momento, e isso saciava todo o vazio que sentiam.
Não percebiam nada. Apenas se completavam. Apenas se curtiam. Não tinha uma descrição nominal. Não sabia o que eram. E nem queriam saber. Queriam apenas se transbordar, queriam apenas se saciar e viver a vida que as redes sociais proporcionavam.
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Sonhavam com o futuro, mas falavam sobre o passado. Sonhavam com uma relação, mas falavam sobre o clima, sobre suas cidades e suas paixões superficiais. Cresceram juntos, amaram juntos e se apaixonaram juntos.
Quando não cabia no peito, compartilhavam com o outro. Quando a alma transbordava, escorria pelos olhos, mas o aconchego era sentido. Ao fechar os olhos, conseguiam se transportar, estavam lado ao lado na alma, mas a milhares de quilômetros fisicamente.
Seria a tragédia do sonhador, do romântico, do apaixonado. Seria a profecia do fim. A premonição do término. Mas a conexão era verdadeira. O sentimento era sincero. Por isso, nada mais importava. As almas seguiram, contra todas as prováveis ocorrências. Se aproximaram e se fundiram, na esperança que no futuro, ao despertarem novamente, estivessem a um passo do outro.
Henrique Schmidt