Carta a quem já amei

Muito sensível, bastante atenciosa e extremamente preocupada com o bem-estar daqueles que andam ao meu lado.

Nunca se engane: meu jeito sarcástico, irônico e todas as vezes que sou implicante e te trato com uma indiferença disfarçada, é testando até onde as pessoas são capazes de ir por mim. É, também, uma forma de proteção que eu criei, para que não entrem tanto no meu espaço, simplesmente porque, com o decorrer do tempo, esse mesmo espaço fora invadido e seus pedaços arrancados.

Sou uma pessoa chata, cismada, cheia de inseguranças e medos, mas isso você já deve ter percebido. Mestre em alterações de humor e em esconder, ou pelo menos tentar, o que eu sinto. Há momento em que tenho uma coragem e uma cara de pau, que me surpreendem, mas há outros em que sou extremamente tímida e envergonhada.

Alguns dias eu rio por horas a fio de coisas idiotas e bobas e adoro fazer umas palhaçadas. Tenho uma verdade no meu olhar que, imediatamente, qualquer pessoa que me conheça um pouco, me entende, compreende o que eu quero dizer.

Há épocas em que fico triste, sabe? Principalmente por me lembrar da morte dele e tudo o que eu preciso é de um abraço, carinho e compreensão da sua parte. Tenha paciência quando eu entrar no quarto e colocar “Só Hoje” do Jota Quest para tocar repetidas vezes e chorar em todas elas. É um sinal de que a ferida segue aberta.

Tome ciência das brigas com meu pai e do amor incondicional pela minha mãe. E também pelo sentimento que tenho por você. Mesmo que não seja recíproco, jamais pise nele, pois há dias que só as lembranças de nós dois me confortam.

Sabe quantas vezes o meu telefone tocou ao som de “Sweet Child O’Mine” e eu desejei que fosse você do outro lado da linha? Inúmeras. Mas ainda me lembro da última ligação, aquela em que você disse para que eu me abrisse mais, que eu deveria jogar menos na defensiva e demonstrar meus sentimentos, pois isso não faria de mim mais fraca.

Hoje eu me arrependo amargamente de não ter feito isso e ter perdido você por aí, por esse mundo. Mas eu sei que, apesar de toda a dor, isso tudo vai passar e, talvez nos reencontremos por aí. Quem sabe até, algum dia, eu te mostre essa carta.

Algum dia…

Grazielle Vieira

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