É incrível como em datas mais especificas ficamos mais sensíveis e reflexivas. Agora mesmo, perto da data que celebra o dia internacional da mulher, beirando aos 28 anos, comecei a pensar sobre a mulher que me tornei e resolvi escrever essa carta aberta. E eu gostaria de convidá-la a fazer o mesmo. Se auto analise e veja o quanto você cresceu, venceu, lutou, apesar das circunstâncias.
Geralmente não paro para escrever nada nessa data, nem em todas as outras, pois, acredito que todos os dias são dias para celebração da mulher, da mãe, do pai, namorados, enfim, das pessoas. Leio alguns textos sobre a história das lutas, as homenagens, as fotos e até me posiciono respondendo alguns, mas esse ano quis fazer diferente. Bom, qual mulher nunca passou por imposições, exigências quanto a sua aparência, quanto a sua forma de liderar. Pois nossa sociedade insiste em romantizar e endeusar o ser feminino a fim de trancafiá-lo dentro das jaulas dos seus padrões inalcançáveis.
Muitas foram às vezes em que me olhei no espelho perguntando quem eu era? E tendo medo de quem eu poderia me tornar. A eterna dúvida sobre quem ser e como construir tudo isso. 24 anos da minha vida foram traçados pelo medo, medo de fracassar, de não ter ninguém ao meu lado e principalmente, medo de não ter um homem ao meu lado. Isso me assustava, porque cresci acreditando que a presença masculina era o que validava o meu sucesso na vida, “aquilo que todas as mulheres almejam”, um relacionamento de sucesso. E com isso, eu corria contra o tempo para ser perfeita da cabeça aos pés, o que acabava me matando diariamente.
Depois desse tempo, onde rompi com essas mentiras que me prendiam e me estagnavam, comecei a refletir sobre quem eu tenho sido, no que tenho gastado minhas energias e, por um momento, senti orgulho de ser quem sou. De ser quem eu me tornei. Apenas aprendi a ser eu mesma e a não entregar a minha felicidade nas mãos dos outros, dos manipuladores da minha emoção. Percebi que as pessoas ao meu redor se sentiam felizes e orgulhosas por serem meus amigos, e isso foi tão bom. É tão bom sentir orgulho de si mesma ao se olhar no espelho.
Deixei de ser uma vítima coadjuvante e passei a ser protagonista da minha história. Notei o quanto ajudei a tantas mulheres a se descobrirem e, a serem, as suas melhores versões. Não há melhor sensação que essa!
Ainda não sou formada, sou solteira, moro com meus pais e tudo bem. Primeiro organizei a minha casa interna, coloquei os sentimentos e os pensamentos no lugar, o que causava todos os outros desajustes. Mas só de saber que não estou mais presa à insegurança e a imaturidade da adolescência, me sinto mais leve. Só de saber que estou livre e que não sou obrigada a carregar fardos tão pesados que a sociedade nos impõe, percebo o quanto me fiz mulher.
Desde o dia em que pensei sobre isso estou refletindo muito e pude perceber o quanto é difícil se tornar mulher. Não é só crescer fisicamente, é preciso crescer na alma, se ajustar criativamente. É necessário se olhar nos olhos com amor, reconhecer e aceitar os erros, melhorar as qualidades e seguir e frente, apesar das escolhas e das situações passadas. Tudo isso é cansativo, é exaustivo, é arriscado, é perigoso, tantas coisas tentam nos parar, mas vale a pena seguir em frente.
Vejo que ainda tenho que percorrer muito até me tornar a mulher que eu quero, ainda há muito que fazer o que vencer. Demorou muito para chegar aqui, ainda há muita coisa para mudar, mas olho pra mim e me orgulho de ser o que sou. Sinto-me feliz por não ter desistido e ter tido resiliência.
Por isso, me presenteei nesse dia da mulher, com essa carta, para lembrar todo o caminho que percorri e que ainda vou percorrer. Quero incentivar a você querida mulher amiga, a escrever uma carta para você também. Você vai aprender a se olhar com mais carinho.