Calce os meus sapatos

Calce os meus sapatos.
Ponha-se nos meus pés.
Sinta os calos.
Você consegue saber de onde eles vêm?
Eu poderia apostar que não, mas não pretendo lhe julgar, portanto não me julgue também.

Você não conhece minha história, não sabe por tudo o que eu passei e tenho passado.
Talvez nem se sentássemos em uma mesa de bar, eu não conseguiria te contar toda história e fazer-lhe entender todas as dores e traumas acumulados ao longo desses anos.
Mas eu sei reconhecer a minha parcela de culpa em tudo que aconteceu.

Eu deixei, sabe?
Eu permiti várias coisas, eu fui absolutamente passiva de várias maneiras, mas eu estou acordando, te garanto isso.
Parei de chorar aos ataques e tenho atacado de volta, mesmo que isso me doa, mesmo que perfure meu coração e me deixe pequena.
Ainda assim, eu tenho conseguido.

Mas há dias que tudo dói e, mesmo assim, ninguém consegue entender, me abraçar, me estender a mão e, o mais importante, dizer:
– Hey, eu calço seus sapatos.
Eu luto todos os dias para ficar viva, para lutar e lidar com quem não consegue me entender, colocando um sorriso no rosto, antes de enlouquecer.

Tenho amor para dar,
Dores para curar,
Vida pra viver.

Tem a vida ainda.
Eu nunca a vivi por puro medo.

Anos de medo,
Anos de dores,
Anos de trauma.

Ainda assim, você não consegue sentir meus pés e me entender.
Nem mesmo depois de todo esse tempo,
Nem mesmo depois de tanto amor e amizade.

Será que algum dia encontrarei alguém para tirar meus sapatos,
Colocar meus pés de molho naquelas águas quentes com loções e massagem,
Tirarem todo calo dos meus pés,
E me dizer que não preciso ter medo,
Que não haverá julgamentos?

Tire os meus sapatos,
Elimine os calos,
Retire os medos,
E não me faça perguntas.

Me abrace!

Grazielle Vieira

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