Café, apenas para um

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Por muitos anos eu entrei nessa mesma cafeteria. Sentava na mesa ao lado da janela, o vidro permitindo que observasse toda a movimentação do mundo exterior.

O garçom chegava. Prancheta na mão, olhos fixos em mim. Ele perguntava o que eu queria e sempre respondia a mesma coisa.

Café para dois, por favor.

Puro, sem leite ou qualquer outra regalia. Apenas dois cafés expressos, nem tão fracos, nem tão fortes. Exatamente o jeito que nós dois gostávamos.

Você sempre chegava depois que o café já estava na mesa. Pela janela via você descendo do táxi e correndo pela calçada, sabendo que estava atrasado. Você sempre estava, mas nunca me importei com isso. Era quase parte da nossa rotina, atrasos e café.

Conversávamos um pouco. Você falava sobre o que estava planejando naquele dia e eu falava do meu. Nossa conversa nunca foi muito profunda, mesmo que estivéssemos dentro de um relacionamento. Era quase uma conversa de negócios, com leves de romantismo em momentos pontuais.

Depois do café, íamos para caminhos diferentes. Só iríamos nos encontrar na mesma cafeteria no dia seguinte.

Acho que sempre houve amor entre nós, mas não um amor profundo de relacionamento. Sabe aquele amor de amizade que facilmente é confundido com amor romântico? Acho que esse era o nosso caso. Nós nos amávamos, mas era algo tênue, a linha única da amizade.

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Tentamos passar apenas por insistência.

E só depois de muito tempo, percebemos que aquilo não era para nós. Que alimentar um romance com base de encontros ocasionais movidos por café não tinha nada de namoro.

Nosso término foi na cafeteria. Algo reciproco, que ambos conversamos e concordamos. Não houve discussão. Nem brigas ou separações cruéis. Provavelmente não íamos nos encontrar mais na cafeteria todos os dias, mas ainda iríamos conversar. Ainda seremos amigos.

Hoje foi o primeiro dia em muito tempo que pedi apenas um café. O rapaz me observou com cautela, mas não disse nada.

Apenas um café, por favor.

Era o sinal concreto que agora estava sozinha. Sem um relacionamento, mas feliz. Alegre e completa, prestes a começar minha manhã com uma xícara quente de um expresso.

Vanessa Silvana

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