Você chegou e, do nada, se tornou meu tudo

Eu não consigo me abrir. Tenho uma incapacidade patológica de deixar as outras pessoas se aproximarem e me conhecerem da forma que sou. Posso falar sobre diferentes assuntos, mas sempre fugindo da possibilidade de deixar que alguém me conhecesse verdadeiramente, por mais que achassem que isso era possível.

Mas você não se importou com isso. Chegou quieta, parecendo que seria apenas mais uma, falando sobre assuntos sem nenhuma importância, mas se aconchegou sem nem ao menos chamar a atenção. Quando percebi, tarde demais, você já tinha feito morada em meu coração.

Em pouco tempo já conhecia minhas atitudes, sabia dos meus pensamentos, se preocupava e cuidava de mim sem nem que eu ao menos percebesse. Começava falando de coisas banais e, de uma hora para outra, arrancava qualquer segredo de mim. Me conhecia como ninguém, e isso me assustava.

Compreendia os meus defeitos, antecipava as minhas falas, debatia sobre os mais variados pensamentos, entendia tudo o que eu tentava dizer nas entrelinhas, e me deixava sem ação. Nem mesmo os sentimentos que eu tinha, e não compreendia, você deixava passar. Tudo parecia de fácil leitura.

“Sai da minha cabeça”, eu dizia. Mas não adiantava. Você achava graça, ria e me chamava de “besta”. Percebia quando eu sentia ciúmes sem nem que eu ao menos demonstrasse, e me provocava citando nomes masculinos que sabia que me incomodava.

Eu não conseguia te expulsar da minha cabeça porque não era lá que você estava. Você estava em tudo. Nos meus olhos, na minha mente, no meu coração. Cada passo que eu dava você sabia. Eu tentava te surpreender, mas não conseguia. Até alemão você fingiu falar para com meu sobrenome brincar.

Não sei se a morada é permanente, mas perdi as forças para conseguir te expulsar. Deixei você ficar, resolvi ser um bom anfitrião. Te aceitei e abracei. “Que seja eterno enquanto dure”, desejei.

Henrique Schmidt

Compartilhe:
Rolar para cima