Um coração que quebrou e voltou

Um crime horrível: às dezessete horas daquele dia de calor intenso, ele se despedaçou e se fez em pedaços. Caiu na sarjeta, dividido em oitenta mil caquinhos, e não tive nem como abaixar pra pegá-lo, porque tudo o que eu queria era deixá-lo ali mesmo. Eu não iria carregar comigo algo que já estava quebrado e só me traria sofrimento:

O meu coração.

Por isso, segui em frente, sem a companhia do coração e de quem morava nele antes disso tudo acontecer. Fui deixando a rotina tomar conta e percebi que não haveria espaço para mais nada parecido na minha vida: me dei a liberdade de me esquecer do que fosse relacionado ao amor.

Dessa forma, consegui viver bem melhor, acredito eu. Porque deixando ele lá, sem tentar reconstituir o que houve ou consertar o que há muito não teria mais conserto, minimizei as marcas dentro de mim. Apaguei as lembranças. Só ficou o vazio.

A parte ruim é que esqueci como era amar. Não queria mais saber destas coisas e não procurei ter isso de volta. É sério, até evitei! Até que, em algum momento, percebi que ele estava vindo atrás de mim. Uma nova pessoa, um outro alguém e uma história fresquinha, querendo começar. Eu estaria pronta para ser protagonista disso tudo?

Tive que tomar uma decisão: eu sabia que, se me abrisse, ele me arrebataria por inteira e tomaria, novamente, cada pedacinho de mim. E não é fácil, sabe? Eu não queria sentir desamor e desilusão de novo e não podia correr este risco mais uma vez. Só que, então, aconteceu algo que mudou tudo.

Me dei conta de que não dá para deixar o conveniente se apossar da gente. Ser precavida demais, no final das contas, é se trancar numa gaiolinha que não te deixa viver.

E, no fundo, bem lá no fundo, este tipo de vida não estava mais cabendo dentro de mim: me sentia um pouco enclausurada nas paredes que eu mesma ergui. Saí da minha antiga situação como quem se acostuma a um novo ambiente. Não tinha como deixar passar o frio na barriga que isso trazia, mas a sensação era boa – e, de certa forma, diferente daquela última vez. Tá aí, começara de outro jeito – haveria de ser diferente.

Me apaixonei.

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