Tu não tens o direito de voltar para mim agora que eu segui em frente. Tu não tens o direito de te fazer de desentendido sempre que te questiono o que ainda tenho entalado. Tu pensas que podes vir assim, depois de tudo, e agir como se fôssemos dois estranhos que acabaram de se conhecer? O que é que tu esperas que eu faça com tudo o que sei sobre ti? Aliás, com tudo o que sei sobre nós. Tu não tens o direito de subestimar a minha memória e enaltecer as partes boas para acobertar as ruins. Tampouco, achar que o tempo foi o único motivo do esquecimento quando só eu sei durante quanto tempo e em quantos ombros chorei por ti.
Tu não tens o direito de bagunçar a minha vida com as tuas promessas, entoando poesia ao pé do meu ouvido. Nem tens o direito de desviar o meu caminho para dar de cara com o teu retorno. És tu quem deve desdobrar-se por mim, e não o contrário. Tu não tens o direito de deixar o teu cheiro impregnado no meu lençol quando sais sorrateiramente antes que eu possa acordar, muito menos tens o direito de permanecer e me trazer café na cama como se isso compensasse as noites em que me deixaste em claro. Tu não tens o direito de me contar os teus fracassos com outras moças para exaltares que não encontraste ninguém igual a mim. Tu devias ter percebido isso antes, e não reaparecido agora para pedir outra chance depois de tanto teres feito por outras coxas.
Tu não tens o direito de te sentares ao pé de mim, tão bonitinho e me olhares como na primeira vez que nos vimos, nem o direito de trazeres no sorriso a paz que eu tanto procurei em outro rapaz. Tu não tens o direito de invadir a minha vida e agir como se não tivesses saída a não ser estares comigo outra vez. Nem o direito de te envolveres com a primeira que esbarrar na esquina e abusares da liberdade como se a saudade não te valesse de nada. Também não tens o direito de me tratar como se eu fosse a única na tua vida quando ainda lembro o quanto disputei por esse título, e por isso hoje já nem sequer o quero mais. Eu segui em frente, juro. E mesmo assim, não sei o que fazer com essa angústia no peito de acreditar que, dessa vez, tu talvez possas fazer direito.
Eu não vou permitir que faças isso de novo e chegues de mansinho trazendo no bolso o sossego que eu perdi da última vez que te vi sair pela porta. Tu não sabes por quantas noites desejei que isso acontecesse, nem sabes que todas as vezes que meu telefone vibrava, eu só queria que fosses tu. Tu não imaginas de quantas saídas eu tive que me desvencilhar e como o meu coração disparava de toda a vez que uma foto tua surgia à minha frente numa rede social. Tu não tens ideia do ciúme que eu senti de todo o sorriso teu que não fosse por minha causa. Como é que tu achas que eu vou conseguir engolir isso? Não é orgulho, meu bem. Nunca foi. Onde o orgulho habita, o amor não pisa, sei bem disso. E sem dúvidas, eu amei-te. Mas não recomendo. É um completo absurdo que tu me peças mais uma chance quando sabes exatamente o que és capaz de fazer comigo. Quem tu pensas que és para voltar na hora que quiseres? Tu deves sincronizar o teu relógio ao meu, e já te digo, o teu está atrasado. O tempo passou e tu fizeste questão de não ver. Hoje, tu não me és suficiente. Todas as faltas que eu buscava suprir em ti, hoje, transbordam. Eu não precisava de ti tanto quanto merecia ter a mim mesma. Se tem uma coisa boa que posso dizer a teu respeito, com certeza, foi o quanto amadureci contigo.
Não é possível que seja amor o que te fez voltar. O nome disso é carência, ou sei lá, imaturidade. Mas amor, não. Tu não me queres de verdade, tu queres-me ao teu lado sem nem mesmo te preocupares em quanto me fazes mal. Isso é posse, nem sequer pode ser ciúmes. Tu podias ter-me reivindicado e nunca o fizeste. É claro que tu mexes comigo, e arrisco dizer que é capaz que assim seja sempre, mas eu sei que cedo ou tarde, as cicatrizes que tu me deixaste vão parar de latejar. Vai ser assim porque tem que ser assim. Tu deixaste-me livre e agora que experimentei o doce gosto que tenho em ser minha, não volto a ser tua jamais. Tu não tens nenhum direito de roubar a minha liberdade, tampouco fazer tão mal-uso do meu coração. Põe-te no teu lugar.
BENDITA CUCA