Relações tóxicas: a gente precisa conversar sobre isso!

Na semana passada compartilhei um link falando sobre relacionamentos tóxicos. Surpreendentemente (para mim), a postagem foi visualizada por quase 23 mil pessoas até o momento. Foi a publicação record da página, mas não me deixou feliz. Na verdade, me entristeceu bastante pensar na quantidade de pessoas que se identificaram com essa situação. Então depois de muito pensar, achei que… Precisamos conversar sobre isso!

Embora a situação envolva, estatisticamente falando, mais mulheres do que homens, não quero falar de gênero, mas de pessoas.

 Como é que a gente sabe que está em uma relação tóxica? 
O que é algo tóxico? Bem, quando você compra um inseticida no mercado ou um produto de limpeza, está lá na embalagem aquela caveirinha de aviso com um “CUIDADO!” bem visível para você saber: é muito perigoso, faz mal, pode te levar a morte.

A matemática então, é bastante simples. Um relacionamento tóxico te faz mal, é perigoso e pode, claro, te levar a morte… Se não a física, a moral, espiritual, da autoestima, do amor-próprio. E entenda, não estou me referindo (apenas) as relações românticas, porque essa inversão de valores pode estar entre qualquer grau de relação que se estabeleça com outra pessoa, seja um parentesco familiar, uma relação de trabalho, de amizade e sim, também, as amorosas.

Na minha opinião particular, você está num relacionamento tóxico quando se pergunta se está em um. Ninguém feliz e vivendo uma relação saudável vai se questionar sobre se está ou não em maus lençóis. O que leva a essa reflexão são aqueles sinais que a consciência recebe e o coração, teimoso como é, repele, achando que tudo se trata de um engano.

Não sou psicóloga, não estudo comportamento humano, não vou pontuar para você fases de um relacionamento. Mas vou apontar, com base no que vi e vivi, aquilo que acende minha luzinha interna e sinaliza: Ei! Algo está errado aqui!

Começa com sutilezas, com você abrindo mão da vida própria, da privacidade, do seu antigo círculo de amizades em prol dessa nova relação. Você é levado (a) a crer que está agindo certo e por amor, que esse é o momento de vocês, de a outra pessoa receber toda a sua atenção e ter a retribuição por todo o amor que sente por você.

Ela te explica que não conhece os seus amigos, então não se sente a vontade no meio deles, prefere estar só com você e curtir o momento. Você acha coerente e cede. Não pensa que talvez, alguém que realmente se importe, vai se esforçar para conhecer os seus amigos, ao invés de te afastar deles. Então, quando você faz essa ponderação, a outra pessoa talvez ceda, observa o território e depois pontua para você todos os defeitos desses que se dizem seus amigos. Ela vai te provar que só quem gosta de você de verdade é ela, que te conhece e te aceita como você é, sem interesse ou falsidade. Você vai ficar triste e receber todo o carinho e atenção para superar essa decepção. E o mundo então será só de vocês.

Sua privacidade vai embora. Sua vida é espremida desde a sua infância e você se abre feito uma flor desabrochando, aos poucos, depois sente aquele conforto por desabafar e ver alguém interessado em te ouvir com tanta atenção. Fala, fala, fala e enche de munição seu interlocutor que te devolve fragmentos da própria vida, como uma troca, 6 pra mim, 2 pra você. Agora que vocês trocaram confidências e aumentaram esse vínculo, você sente uma dependência estranha dessa relação, dessa pessoa que te conhece e te entende, e ela está munida com todas as suas fraquezas e fortalezas e você vai ver que, logo, logo, isso será usado contra você.

Entenda uma coisa… Você não tem que provar sua fidelidade e seu sentimento, abrindo sua vida e sua individualidade e se desrespeitando. Fornecer suas senhas, abrir o acesso às suas redes sociais, revelar o desbloqueio do seu celular, mostrar quem são seus contatos e expor suas conversas para mostrar que está tudo bem e que você é fiel e leal a outra pessoa só provam que, existe uma coisa muito errada aí.

“Quem não deve não teme”, você vai ouvir. E se recusar a abrir sua privacidade, será acusado (a) de ter algo a esconder. “Agora sim eu tenho motivos para desconfiar, senão você não precisaria esconder nada”. Oras, não se trata de esconder, mas de simplesmente não ter que provar. Quem confia, confia. Se você quiser deixar sua vida aberta, porque não tem mesmo nada a esconder, ótimo, faça isso, eu acho super saudável essas relações de confiança e abertura, desde que sejam por iniciativa própria e não impostas como uma prova de amor. A gente não prova amor, nunca, de maneira nenhuma. Jamais!

As discussões são frequentes, talvez diárias e você começa a ter medo quando tudo vai bem, porque sente que não vai durar. E eu fico aqui pensando se isso não é um aviso luminoso bem grande mostrando que você está numa furada. Ter medo de estar feliz, porque sabe que não vai durar!? Veja só isso! Os momentos de paz são rompidos por coisas banais que sempre acabam levando para discussões dolorosas. No final, você vai ser levado (a) a crer que a discussão só aconteceu porque você não entendeu, não respeitou, não valoriza o sentimento, não gosta com a mesma intensidade, é egoísta, está se afastando, está permitindo que o relacionamento esfrie…

Ou você assume a culpa, se desculpa, se humilha buscando o perdão por aquilo que na realidade não fez, enquanto a outra pessoa se posiciona como ofendida e magoada e te perdoa, não sem antes discursar sobre como você age mal quando faz essas coisas e prejudica a relação de vocês, ou… Você se posiciona, enfrenta o monstro e não abre mão das certezas que tem. Às vezes isso funciona bem e você ouve um pedido de desculpas, tão melodramaticamente empregado, com palavras de gratidão por você estar ajudando a outra pessoa a ser melhor, que você sente que essas discussões fazem parte da relação. Então você se penaliza e a outra pessoa te explica que errou, mas que você precisa entender que ela tem essa e aquela fraqueza que você insensível, não nota. E às vezes você cutuca o dragão que cospe fogo em você e vomita aqueles desabafos que você fez, em forma de punição para seu mau comportamento.

“Não sei, você deve ter um trauma de infância por isso e aquilo que me falou. Isso está afetando você, não é culpa minha”.

“Olha só, repetindo aquilo que aconteceu com Fulano e Sicrano, hein. Eu sabia, é você que faz isso, por isso não deu certo, você que é assim”.

E por aí vai… Você será igual ao seu pai, sua mãe, seu irmão, sua avó, seu patrão e todas as outras pessoas que por ventura tenham seus defeitos relatados por você em algum momento, em tom de confidência. Será o momento de você sentir que tudo o que viveu até hoje e a maneira como foi tratado (a) na verdade foi culpa sua e do seu comportamento. Você é que estraga tudo ao seu redor com sua maneira de ser e obriga as pessoas a te tratarem assim e merece todo o seu sofrimento.

Não tem jeito… Isso vai entrar na sua mente e você se sentirá a pior das pessoas. Vai pedir perdão, vai tentar mudar e vai se aproximar ainda mais dessa pessoa que não só te entende, como te conhece e sabe te enxergar como ninguém jamais fez. Porque “ninguém nunca te amará como ela”.

A falta de respeito começa a ser uma coisa comum. Falar palavrões, “cala a boca”, “não enche o saco”… NÃO SÃO termos entre pessoas que se respeitam. E se você não vive num relacionamento tóxico mas pratica essa falta de respeito entre suas relações, repense. Pessoas que se amam não se ofendem, não se desrespeitam nunca, porque simplesmente é impensável agir assim com quem nos importamos. Então, talvez você se descubra agindo diferente, falando coisas que nunca falou e reagindo como nunca reagiu, você não se reconhece mais e novamente sua luzinha te diz que isso não é normal.

A dependência mascara o sentimento. Você torna-se dependente da outra pessoa, como de uma droga, um remédio que cura a dor de um lado e causa a dor de outro. A outra pessoa depende de você e te faz sentir que sem sua presença, a vida dela não terá o mesmo sentido. Assuste-se com alguém que te disser que não sabe como vai viver sem você, que não existe vida sem você… Penso que isso é qualquer coisa que não amor.

Nunca dá certo com ninguém e agora você está fazendo o mesmo mal a essa pessoa, novamente. Você vai receber essa acusação! A outra pessoa vem colecionando mágoas e um coração partido e nunca reconhecido, apesar de todo o sentimento que tem para oferecer, porque sempre encontra pessoas oportunistas como você pelo caminho, que não dão valor a ela. Oras, pense bem… Se nunca deu certo para ela nas muitas tentativas anteriores, o problema está mesmo em você?

Andei lendo por aí que não podemos ajudar os sociopatas (que me pareceu uma palavra pesada, mas traduz bem esse comportamento). Mas achamos que podemos. Às vezes acreditamos que temos uma missão, que nada acontece por acaso, que essa pessoa entrou na nossa vida porque temos forças para ajudá-la a se libertar. Não temos… E vamos enfraquecendo com o tempo a ponto de permitirmos que ela nos oprima, nos humilhe, nos faça nos sentir um caco humano capaz de ser montado apenas por ela mesma.

Você será atacado (a), ferido (a) e ofendido (a) propositalmente com as palavras mais duras que a outra pessoa encontrar, porque ela quer e precisa que você sofra como ela está sofrendo. Por favor… Isso não é amor. Amor não fere, não de propósito e arquitetadamente.

O ciúmes será uma prova de amor, a prova de alguém agora se importa com você e está cuidando de você como nunca ninguém fez. Ninguém gostou tanto de você sua vida toda, as pessoas só se aproveitavam de você. E você… Talvez aceite essa prova de amor e atenção, mesmo que a luzinha da sua consciência te diga que isso não é jeito de demonstrar amor.

“Se eu ver que você não está feliz, eu mesmo (a) vou embora”.

“Eu só quero te ver bem, mesmo que não seja comigo”.

“Abro mão da minha felicidade pela sua”.

Mas ouse romper a relação, ouse falar no fim e em seguir sem essa pessoa por perto. Você terá a oportunidade de ver o dragão cuspindo fogo novamente.

Acho que vem daí a violência psicológica, física, os abusos, os estupros conjugais… Que acabam na morte, se não física, moral, espiritual, da autoestima e do amor-próprio.

Mas a gente sabe… Sente quando algo não vai bem. Ninguém deveria se submeter a esse tipo de subjugamento. Contudo, nem todos conseguem sair disso tão facilmente ou mesmo reconhecer os sinais.

Sabe aquela conversa que quer ter com seus pais, um amigo de confiança, um irmão, mas que a outra pessoa te convence a não fazer porque isso seria abrir a vida de vocês dois, te diz que as pessoas sentem inveja e não gostam dela e vão querer afastá-los? Esqueça essa história e desabafe com alguém em quem confie e que possa te ajudar, seja conversando, te fortalecendo ou te dando suporte para que você saia disso.

Não ache natural viver numa relação assim, pensando que os relacionamentos são difíceis, que você está sendo fraco (a) e covarde por desistir, que está demonstrando que não sentia amor. Não ache natural sofrer e conviver com essa luzinha dentro de você sinalizando que algo vai muito mal e que você precisa tomar uma atitude.

Amor envolve amizade, carinho, cumplicidade, compreensão, tolerância, respeito e só. Não está no pacote o ciúmes descontrolado, a raiva, o desrespeito, a violência física e/ou psicológica seguidos de pedidos de perdão e um curto arrependimento.

Lembra quando você ouviu que aquela ofensa, aquele grito, aquela briga sem motivo, aquele ciúmes descontrolado, aquele desrespeito nunca mais aconteceriam? Quantas vezes isso se repetiu desde então?

Eu não sou perita… Mas aprendi na vida que vale muito mais a experiência do que o diploma.

Dê atenção ao aviso da sua consciência, ela vai sinalizar com luzes e sons quando algo estiver errado. Seu coração vai sentir “amor”, mas vai estar pesado demais para ser feliz de verdade. E você vai saber identificar que algo está errado e que é a hora de partir dessa relação.

Veja mais algumas dicas de como lidar com relacionamentos tóxicos:

Luciana Marques

Imagem: Fala Barreiras

Compartilhe:
Rolar para cima