O Desafio da Individualidade.

A individualidade, em um cenário intimista, é sempre vista como virtude. Entretanto, em uma convivência coletiva, geralmente torna-se um fardo para quem a carrega. Ser o exótico é ser alvo de atenção, e esse seria o ponto problemático de nossa dissertação: atrair olhares, distinguir -se em uma multidão pela incapacidade de ocultar suas particularidades.

Tal incapacidade, por vezes, não se mostra clara e imutável. E então surgem as frustradas tentativas de negar a si mesmo para torna-se semelhante ao redor. Apagar-se, encolher-se em um plágio fracassado do que é definido como estética ou comportamento padrão.

Essa opressão de olhares, promovida ausência de características comuns no exterior do ciclo tradicional de convivência, sufoca e aprisiona até mesmo quem sempre fora visto como exemplo de autenticidade. É diário, porém sutil. Percebido apenas quando já deixa marcas no subconsciente, que em um dia comum, pega-se observando o espelho e enumerando defeitos nunca antes percebidos, porque até então não estavam nessa categoria de adjetivos.

Os padrões oprimem. Sem armas, sem discursos e, por vezes, até mesmo sem mídia. Causam questionamento a tudo que lhe é incomum e inconfundível.

Manter a individualidade em um cenário coletivo, onde nossa identidade é sublinhada em amarelo néon causando um desconforto inconsciente, pode ser definido como uma batalha diária e interminável.

A necessidade de auto-lembrete que esse súbito bom senso não passa de uma teimosa vontade de ser um desses que ninguém lembra o nome, o gênio forte ou a cor do cabelo. Que transitam livremente de um lado a outro da fronteira, sem precisar tomar posição ou ser previamente destinado, porque a neutralidade, sua aparência padrão, lhe conferem o privilégio de confundirem-se entre si, e por vezes trocar de atribuição e, não raramente, de personalidade.

A irracional vontade de ser apenas mais um na multidão, com a invisibilidade que lhes ausenta a cobrança e lhe conferem o privilégio de errar.

Deborah Anttuart

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