Não somos um casal, e nem queremos ser

https://br.pinterest.com

Corta essa! Não somos um casal. Definitivamente e irremediavelmente não. O universo há de ter planos melhores pra mim, que não incluam um cara que é apegado aos tubos quase vazios de desodorante spray, e tem uma admirável coleção dessas pequenas doses na gaveta de meias. Não sou de expor ninguém, muito menos cuspir no prato, porém quem ousaria ser casal com um cara que usa “show de bola” como gíria? Nada contra shows ou bolas, mas simplesmente não é a minha vibe.

Nada a ver. As roupas dele que estão aqui em casa são frutos de um alzheimer precoce, que o faz deixar pra trás uma peça por semana. Se ele pensa que vou lavar, o queridão está muito enganado. Só duas ou no máximo três camisetas que fiz usucapião e tirei pra pijama nos dias que não há possibilidade dele aparecer por aqui. Deus me livre ser dessas gurias que romantizam o casual.

VEJA TAMBÉM:

Falando em romantizar, sem condições quando ele usa de abraços na despedida, ou pega minha mão enquanto dirige. Onde esse cara está com a cabeça? Temos um acordo registrado no cartório da minha imaginação, contra essas coisas de casal, uma vez que, nem de longe, somos um casal. Já não basta aquela semana que rolou três noites de conchinha, quando meu apartamento resolveu virar habitat natural de roedores, e aceitei de bom grado o convite para passar uns dias na casa dele, enquanto meu ninho era dedetizado.

Se arrependimento matasse, eu teria morrido de cólica presa em uma conchinha. O pior é que ele tem uma conchinha gostosa pra caral@#,  não posso negar. A primeira noite foi de insônia, entretenimento adulto, e uma dose maior de insônia. Então um certo braço foi substituindo meu travesseiro, enquanto outro travesso braço enganchava minha cintura. De repente já era bem tarde e eu estava, sem relutância alguma, aconchegada naquela concha ridiculamente reconfortante que me fez dormir no nível Ostra Desencarnada.

VEJA TAMBÉM:

Não somos um casal. Meus objetivos são bem claros nessa relação. Estou apenas em busca do macarrão com salsicha e queijo, que ele faz tão bem, a habilidade invejável de fazer cálculos de cabeça, e aquela eventual conchinha quando estou com cólica, ou quando assistimos filme de terror e me humilho pedindo a ele pra ficar por aqui até meu sono chegar, se possível até o medo passar e por que não por uns doze anos seguidos? Afinal, cada um vive seu medo pelo tempo que lhe parecer necessário.

Mas se perguntar o que somos, serei categórica em dizer que não somos um casal. Ser casal é mais do que lembrar de comprar aparelho de barbear nas compras do mês. Está além de tentar cozinhar algo diferente do que batata frita na Philips Walita em datas especiais, ou abrir mão da minha American Horror Story quando é dia de jogo.

VEJA TAMBÉM:

Ser casal está bem além de sentir saudade súbita de um dia pro outro, ou marcar em memes no facebook, ou enviar cartões de cunho sexual com imagens fofas. Ouvi dizer que pra ser casal tem que usar apelido no diminutivo, e sentir ciúmes, e discutir. Tem que mentir pra poder sair com os amigos, tem que brigar por atrasos, ou porque pessoa A ou B curtiu uma foto. Ser casal parece bem cansativo, então, preguiçosos como somos, continuaremos assim, na categoria não-casal.

Sendo apenas uma conchinha fiel, a primeira mensagem no whats de cada dia, o trago de vinho e queijo de toda sexta, a risada reprimida de cada vizinho estranho que passa por nós, o abraço silencioso de cada dia do cão.

Vamos continuar assim, bem longe de ser um casal, porque ninguém é louco de mexer em time que tá ganhando, tá sorrindo e tá amando sem rótulos, sem pressão, sem ter que provar nada pra ninguém.

Deborah Anttuart

Compartilhe:
Rolar para cima