Chego em casa vazio. Eu e a casa. Ela me come, me devora e me faz ficar parado na porta durante alguns segundos. De tênis velho e cara de pouca reação, dou passos que eu desejava muito serem falsos.
Se você soubesse como dói olhar tuas fotos e saber que você não vai voltar… Não sei nem por onde começar: arrumar suas coisas? Escolher tuas roupas? E o que eu faço com a sua escova de dentes? E os cabelos na cama? E os móveis de jacarandá que compramos? Você não poderia ter partido assim, deixando tudo de você.
Dou três voltas dentro de mim, sento-me na beirada da cama junto às lagrimas e, ao ver nosso retrato no criado-mudo do seu lado da cama, lembro-me de como você gostava de sentar em pedras frente ao mar e tirar fotos de rosto colado. Ou de jantar a dois, ao som da chuva que caía e envolvia dois amores que se avolumavam entre cobertores e beijos. Sinto tanta saudade… De viver o nosso amor nas varandas dos lugares em que estivemos. De confiar no teu amor. De pedir calma e receber alma.
Eu, que sempre fui tão homem, tão forte, tão convicto dos fins da vida, hoje choro de amor puro. Pois você me fez acreditar no que eu sentia, me fez acreditar que, quando se ama, a gente perde a rigidez imposta no dia a dia. Nosso amor sempre foi história longa, e eu queria você dizendo que não pode ser diferente agora. Me ajuda. Volta. Me leva junto.
Sempre que encontro nossos amigos, eles perguntam como estou e me olham com cara de compaixão. Eles não sabem como agir, e eu nem sei mais como sonhar sozinho. Diziam que nosso amor era tão sincero. A meu ver, tínhamos um relacionamento que não era pautado por vontades únicas, mas por concessões. Acho que hoje não existem mais relações como a nossa. Aguentar os pequenos entreveros da vida e firmar essa parceria feita de lençóis, pés quentes e torradas na cama não é para muitos. Parece que as pessoas desistem fácil demais, querem relacionamentos em estado de perfeição e se esquecem de construí-los dia após dia.
Como se não bastasse, toda vez que saio lembro de você. Não éramos muito de sair, eu sei, mas sempre que víamos uma mulher de minissaia você dizia que uma minissaia perde seu charme quando o intuito é convencer alguém, somente com aquilo, que ali existe um mulherão. Você era demais. E minha.
Eu tinha tantos planos para a gente. Ainda nem pintamos as cerquinhas da nossa casa de branco. Ainda nem fizemos uma casa na árvore para o Plínio e a Catarina – nossos tão sonhados filhos. Ainda nem cantamos Valsa Brasileira do Chico juntos, com os pés na areia. Ainda nem terminarmos de fazer as receitas do caderninho surrado que a sua Vó nos deixou. Ainda nem nos prometemos o suficiente. Tampouco gritamos amores em tom de sussurro. Posso continuar dizendo quanto te amo ao ver suas fotos? Deixa, vai… Estou precisando te encontrar nessas molduras estáticas que tanto me trazem você.
Hoje estou sozinho, mas cheio de lembranças de uma mulher que me beijou a alma.
Vá com Deus, minha pequena.
EOH