Tenho um costume meio sádico de, toda vez em que brigo com ela, pegar as nossas conversas antigas e relê-las. Fico reparando como a gente alongava as vogais nos “bom dia”, como as palavras “saudade” e “olá” já pareciam ser mandadas com tanto carinho. Mesmo sendo tudo digital, qualquer um que lesse poderia sentir o tanto de sentimento que havia naqueles bits. E mesmo parecendo um tanto maluco, eu sempre fazia isso pra relembrar os motivos que me fizeram amar essa mulher.
Sempre descubro que me sobram motivos pra isso.
É verdade que a gente, às vezes, briga por nada. Mas qual é o casal que não faz isso? Qual casal que leva a sua relação de forma tão chata que não tem uma briguinha causada por ciúme? Me diz quem é que nunca se desentendeu e fez beicinho? Somos normais até demais. Eu, inclusive, já a chamei algumas vezes de maluca. Ela, do outro lado, em outras ocasiões também já me deu umas patadas bem dadas. E assim a gente vai se entendendo com esse amor.
Só que da última vez que brigamos, eu segui o mesmo proceder com uma única diferença: mandei pra ela uma conversa que tivemos logo depois do nosso primeiro encontro. A intenção, claro, era das melhores. O resultado é que não foi o esperado. Primeiro, ela me chamou de chantagista emocional. Segundo, pediu pra eu fosse dormir e pensasse direitinho no que tinha acabado de fazer. E, terceiro, disse com todas as palavras “não quero mais falar com você”.
O que eu fiz de tão grave?, pensei assustado.
Obviamente puto da vida, fui deitar. Aliás, eu estou contando isso tudo aqui, mas não faço ideia do motivo causador da briga. Acho que era alguma coisa relacionada ao fato dela querer viajar pra um lugar, eu não ter dado muita bola pra isso e, por fim, ela dizer que era sempre assim mesmo e não dava ouvidos pra ela. Se eu estava errado não interessava. Na cabeça dela, eu estava. E isso bastava.
Quando estava quase pegando no sono, decidi voltar àquelas conversas antigas. Achei um outro trechinho e mandei. E desliguei o celular. Fui dormir. Acordei meia hora depois com alguém esmurrando a porta do apartamento e interfonando e ligando pro telefone daqui de casa. Abri a porta e ela pulou no meu pescoço. Caímos os dois, ela por cima de mim, e levei logo um tapa no braço enquanto ela gritava “eu te amo, seu idiota”.
O que dizia a conversa que eu tinha enviado? Era algo simples até demais.
“Vai chegar um dia em que brigaremos por nada e tudo será motivo pra pensarmos em desistir. Pode até ser que, agora, inebriados pelo gosto bom do início, pensemos que isso é impossível. Mas, acredite, acontecerá. Esqueceremos as risadas, os momentos bons e o que construímos. Instalaremos um problema e, eu sei, faremos uma tempestade num copo d’água. Então, será nessa hora, que não poderemos nos esquecer do principal: o Amor que nos uniu.”
E que, pelo visto, nos une até hoje.