Amores (im)possíveis

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Ainda online… talvez estivesse esperando mais alguma coisa. Uma palavra qualquer que mudasse o rumo daquela conversa para um enredo (in)esperado. Talvez estivessem olhando para a mesma conversa claramente acabada com palavras sábias e sóbrias, todas maquiadas para que fosse o que precisava ser. Não.

Talvez estivessem falando com outras pessoas e desenrolando um enredo parecido que culminaria naquele mesmo fim. E eram tantos talvez que decidiu pensar no que melhor lhe convinha. Eram adultos, em momentos da vida em que o talvez não lhes cabiam mais, as desculpas, mentiras e fantasias imaturas eram desnecessárias quando se podia ser claro, verdadeiro e objetivo. “Tudo é permitido, porém, nem tudo nos convém”, pensou.

Pensou em tudo o mais. Recordou, viajou no tempo, mas memórias distantes, nas recentes, nas criadas. Na sorte que tinha em ser a pessoa que era agora, na sorte em ter encontrado naquela pessoa estranhamente conhecida alguém nesse grau de sobriedade da vida, com quem podia falar sobre ser, sins, nãos e talvez sem andar na corda bamba dos corações e almas sonhadoras, fantasiosas e cheias de cobranças.

Não é que não houvessem sonhos, desses que se sonha juntos ou separados, dormindo ou acordados. É que havia muita realidade, não cruel, não amarga, talvez em partes vazia daquilo que não se pode mesmo ter. Era uma realidade bonita, brindada pela vida com presentes que deveriam pela eternidade agradecer. E talvez fossem mais um dos presentes da vida. Haviam se permitido por aquele breve espaço de tempo a intensidade nunca encenada na mente, a realidade que superava todas as expectativas que por ventura tenham sido idealizadas um dia.

Não eram uma exclusividade, um acontecimento histórico, avassalador e destruidor. Também não eram números, não eram só mais um. Eram o que eram. Foram o que foram. Marcantes, intensos, presenteados pelo reencontro da vida, surpreendidos pela conexão subliminar que outras vidas e dimensões talvez explicassem. Não queria explicar nada. Não queria entender nada. Não queria nada além de tudo o que já tinha e que já era o bastante. Queria preservar aquela memória assim.

Talvez só colocar mais alguma coisa naquela tela pausada com aquele online. Não cabiam declarações amorosas, não se conheciam para isso. Não cabiam palavras picantes, porque o que sentia naquele momento era diferente de desejo, embora ele também existisse. Pensou em agradecer a vida, aos deuses, ao destino, ao que quer que fosse, apenas agradecer, falar que teve sorte, que não era um não difícil de dizer, mas que lá no fundo pensava em como tudo teria sido se o sim tivesse vindo em outros tempos, velhos tempos.

Quis encerrar num abraço apertado. Mas os abraços entre eles eram tão bons quanto arriscados, e possivelmente transformariam pontos finais em vírgulas. Quis o abraço mesmo assim. Dizer que ainda esperava olhar naqueles olhos e demorar em conversas sobre banalidades da vida, qualquer coisa de normalidade que pudessem ter em comum, falar de filhos, do tempo, esquecer do risco do abraço e apenas abraçar.

Era pra ser só um abraço. Mas virou uma página de um livro de vidas que não tinham nada em comum, que se cruzaram na história de dois estranhos conhecidos. E foi um dos melhores abraços que já havia trocado até hoje.

Luciana Marques

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