Sou libriana daquelas que se encanta com tudo o que há de bonito. Paisagem bonita. Roupa bonita. Gente bonita. História bonita. Tudo isso, de um jeito ou de outro, feliz ou infelizmente, acaba me seduzindo. Confesso que já digeri graves crises de consciência por esse apego tamanho à superficialidade da imagem. Não poderia ser diferente. Desde a formação das primeiras sílabas, naquela primeira leitura clichê, lemos e relemos a verdade simplória e complexa que só anos mais tarde a gente consegue entender: “o essencial é invisível aos olhos, bebê”. À parte isso, sabe-se lá porquê, acabei percebendo que um pouco mais, um pouco menos, todo mundo é meio assim, fascinado pelo belo.
Quando bati os olhos nele foi exatamente assim. Pensei logo de cara: “Puta merda, que cara lindo!”. Eu era dele em um segundo. Cerrei os lábios num esforço imenso para não vomitar encantamento em palavras mal organizadas pela confusão mental que a imagem dele me causou. Eu gostava de tudo nele. O cabelo bagunçado pela ansiedade das mãos nervosas. O sorriso largo que abria espaço para me sugar a cada gargalhada. As imagens concebidas naquele jogo de “ligue os pontos” formado pelas sardas do rosto dele. Ele me tinha. Eu sempre fui dele.
Eis que descobri a complexidade fascinante daquela voz. Tudo o que ele dizia soava bem. Até hoje é assim. Com três cervejas a mais o sotaque enrouquece, e, vai entender, me enlouquece um pouco mais. A risada escandalosa. Os gritos de dor quando eu, desajeitada, acabo esmagando um pé distraído. A graciosidade daquele ronquinho de quem dorme meio bêbado de barriga para cima. A voz respeitosamente empostada quando ele tenta ensinar alguma lição provinciana que inexplicavelmente torna-se imperdível aos ouvidos cosmopolitas dessa tola que vos fala.
Três trocas de perfume mais tarde, descobri que não, infelizmente aquele cheiro não esta à venda em lojas “Duty Free” por aí. Sinto-me uma primata pouco lapidada quando me dou conta do quanto, instintivamente, o cheiro dele me atrai. Meu rosto, em repetitivos e constantes espamos, insiste em buscar aconchego naquele ombro esquerdo que me acalma e alegra sempre que eu precisar.
Talvez tenha sido o tato. A maciez da pele. O aconchego do cabelo. O jeito de encostar. Aquele abraço sempre foi meu. O encaixe. Foi tudo minuciosamente projetado para, sabe-se lá porquê, me abrigar. Dizem que pode ser o sexto sentido, a intuição, o bem que ele me faz. Hoje eu sei que é um misto de tudo isso, é a sinestesia que me faz amar. Se fosse só belo, talvez não mais me tivesse, não mantivesse. Foi assim com todas as outras paixões da minha vida. A beleza das palavras me encantou, mas é o bem que elas me trazem diariamente que transforma esse encantamento em amor. É essa a beleza da bondade.
“Quem é belo é belo aos olhos – e basta. Mas quem é bom é subitamente belo.” – Safo de Lesbos
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