10 coisas que a gente só aprende na Vida Adulta (ou uma lista sobre a crise dos 20)

Uma lista em andamento, completamente pessoal e carregada de gerundismos e sentidos para “coisa”. Campo de comentários aberto, especialmente para quem tiver mais aprendizados tidos depois dos 20 a compartilhar.

1. Tudo bem desistir

Antes dos 20 anos, talvez mais por ser nerd do que por ser jovem, eu não acreditava no valor da desistência. A juventude, muitas vezes, não é momento de dar “o braço a torcer”. Desistir implicava em admitir que não conseguíamos concluir alguma coisa, implicava em admitir que talvez tivéssemos feito a escolha errada.

A vida adulta vai mostrando que desistir das coisas faz parte do processo. A percepção do tempo, do lado de cá dos 20, é diferente. A vida corre com uma urgência mais sossegada e mais aflitiva.

Enquanto a juventude dá espaço para a multifuncionalidade, a vida adulta preza pela especificação. E a gente vai abrindo mão de coisas sempre que escolhe outras (o que vai puxar outro ponto, já, já).

Mas é preciso fazer duas ressalvas importantes, aqui:

a) não desistir das coisas não é o mesmo que ter comprometimento! Tem a ver com teimosia, com acreditar que sempre vai dar tempo para voltar atrás e escolher outra coisa;

b) essa não é uma ode à desistência, ao contrário: persistência é fundamental, tanto quanto compreender o momento de ceder, ou seja, uma coisa não exclui a outra, a questão é parar de associar desistência a fracasso e persistência à força.

2. Escolher é abrir mão, mesmo

Na adultice, questões de múltipla escolha nem sempre são mais fáceis do que questões abertas.

Primeiro porque, diferentemente da escola, a vida nunca tem um gabarito. Não dá pra ter certeza absoluta de que fizemos a escolha certa e o tempo para decidirmos, quase sempre, é curto — lembra da urgência sossegada e aflitiva?

Segundo porque não dá tempo de escolher muito mais do que uma alternativa só. Ou melhor: mal dá tempo de escolher uma coisa só. E, se demoramos a escolher, a questão passa e ficamos onde estávamos.

Se a vida adulta fosse um jogo de xadrez, seria daqueles em que se joga com um reloginho do lado, cronometrando o tempo que temos para uma jogada. Se o tempo acaba, perdemos a vez.

3. As coisas (e as pessoas) mudam o tempo todo

Pode parecer amargo, mas (quase) nada (e quase ninguém) é para sempre. Nem mesmo a gente é.

Laços afetivos estão diretamente ligados à convivência, ao contato, quer seja justificando seu início quer seja explicando seu fim. Na escola, é fácil ter best friends forever porque os momentos mais incertos têm data para acontecer: as férias do meio do ano ou as férias do fim do ano.

Estudei 11 anos e meio na mesma escola, no mesmo turno, sem repetir. Meus melhores amigos (da época) guardam um padrão semelhante: muito tempo na mesma escola, no mesmo turno, sem repetir. Não havia a possibilidade de não ver o outro quase todo dia, porque não havia a possibilidade de não ir à escola (salvo casos extraordinários).

A vida adulta não faz chamada. As pessoas faltam, as pessoas (se) mudam, as pessoas (se) atrasam, as pessoas (se) repetem, as pessoas (se) enjoam, as pessoas desistem (e tá tudo bem). É o paradoxo da instabilidade estável. E ou a gente vai ficando mais leve, por perceber que tudo bem as coisas mudarem, ou mais difícil de se cativar, por perceber que as coisas mudam o tempo todo.

Mas ainda dá pra se enganar, naqueles momentos em que a gente tem certeza de que nada vai ser como foi e escolhe pensar que “isso não é um adeus, é um ‘até logo’”. E ri, e chora, e promete coisas que não compete à gente, e segue.

4. Crie gatos, não crie expectativas

A vida adulta tá me ensinando que o caminho, nesse departamento, não precisa passar tanto pela radicalidade. O segredo não é necessariamente não criar expectativas, mas, sim, aprender a controlá-las, torná-las mais reais, mais próximas, mais possíveis.

Se estou num processo seletivo de três fases, não gosto da expectativa do “já passei”. É mais prudente pensar “depois dessa fase, só faltarão duas”. Isso me ajuda a ficar ainda mais feliz com bons resultados, assim como a não ficar completamente devastado com os ruins. Diferentemente dos crushes de antes dos 20, com quem imaginávamos uma vida inteira antes do primeiro mês inteiro.

Mas controle de expectativas é que nem c… Gosto! Cada um desenvolve o seu. A vida também tá me ensinando que tem quem goste mesmo é de se jogar com tudo, e tá tudo bem também. O negócio é refletir e perceber quem você é: se o que se joga, se o que vai passo a passo.

5. Você não se torna eternamente responsável por aquilo que cativa

raposa ou tinha menos de 20 ou precisava mais de terapia do que de alguém que a cativasse.

Não me leve a mal. “O Pequeno Príncipe” é um livro lindo. Lembro bem de quando o li pela primeira vez, numa única madrugada, encantado com as metáforas. É um texto extremamente polissêmico que nunca é o mesmo quando lido novamente. Ele, também, sempre muda.

Acredito que muito do que Saint-Exupéry escreveu é mais ponto de reflexão do que filosofia de vida. Para a raposa, cativar é criar laços, mas no sentido de um necessitar do outro, de um  —  ao vir às quatro da tarde  —  despertar expectativas no outro  —  desde as três (e já falamos sobre expectativas). E isso gera cobranças com as quais a gente não pode arcar, como quando o príncipe precisa seguir em frente e a raposa sofre.

Assim, o principezinho cativou a raposa. Mas quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
– Ah, eu vou chorar!
– A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu a cativasse.

Quando me apaixonei a primeira vez, daquele jeito adolescente e (segura o clichê) no primeiro período da faculdade, eu pensava que quem nos cativava tinha responsabilidade. Como a raposa, eu acreditava que a gente tinha certa culpa em cativar, que fazia por querer, sempre intencionalmente, que tinha método, forma, profilaxia, prevenção. Não tem.

É diferente de estabelecer acordos, de construir relações, de se dispor. Não é responsabilidade afetiva. É desejar ser correspondido, mesmo que, para isso, se lance mão da culpa, do remorso, do “eu não queria me apaixonar por você, quem mandou você me dizer ‘bom dia’ sorrindo assim?”.

6. A média quase nunca é 6 (ou 7)

Lembro da escola em que estudei por 11 anos e meio. A média, lá, sempre foi 6. Nunca tive problemas de ter objetivos medianos, com relação a notas. Talvez porque, apesar dos objetivos, as notas não eram medianas (nerd alert). O importante era ser aprovado.

Na faculdade, a média era 7. Lá pelo segundo período, me deparei com a primeira grande nota baixa. Eu e 99% da turma (ninguém tirou mais de 6). Foi como perceber que o Titanic estava mesmo afundando.

No fim do semestre, 99% da turma (eu incluído) passou com nota sobrando. A professora aplicou uma prova absurda e, sem seguida, passou vários trabalhos cujas notas eram adicionadas à da prova. Era o método dela. A moral da história era que o objetivo não devia ser passar nas provas, mas colocar a teoria em prática (em outras palavras, aprender mesmo).

A vida adulta tem muito disso. Não é sobre decorar as 34 fórmulas que vão cair na prova e depois esquecê-las, é sobre encarar a subjetividade das situações e dos contextos, associando tudo o que foi vivido/aprendido e que constitui nosso conhecimento de mundo. Assim, como não existe gabarito, 8 pode ser maior que 10.

7. As decisões que você toma antes dos 20 NÃO definem todo o resto da sua vida

Essa é uma das lições mais libertadoras dessa lista, para mim. A escola passa boa parte dos 12 anos de ensino fundamental e médio dizendo que a vida precisa ser definida o quanto antes. É como uma contagem regressiva que não cessa.

O que você quer ser quando crescer? Quanto quer ganhar? Onde quer morar? Não quer passar de primeira? Como assim ainda não sabe? O ENEM tá logo, aí, hein?! Você não tem tempo para ir ao cinema se quer fazer Medicina!

Deixa eu contar um segredo: os adultos (especialmente os professores) sabem que a vida não se define aos 17 anos, mas eles acreditam que o medo é o jeito mais eficiente de “motivar” a “garotada”. Como professor, eu discordo.

Não quero dizer que não deve haver cobrança, mas que nutrir uma cultura de culpa e ansiedade, especialmente com as últimas gerações de estudantes, tem mais chances de acabar em frustração do que “aprovações em primeiro lugar nos mais concorridos vestibulares do país”.

O fim do tempo de escola tem mais de “pronto, você já pode experimentar a vida, quebrar a cara e conquistar suas próprias vitórias” do que “não decidiu nada ou não conseguiu alcançar o que tinha decidido? Bem-vindo ao fracasso eterno”.

8. “Desculpa o atraso, foi o trânsito”

trânsito é uma desculpa universal e pode ser usado, basicamente, em dois tipos de situações: quando ele realmente atrapalha e em quase todas as outras em que você se atrasa.

E quanto mais longe você morar do lugar em que o compromisso aconteceria, mais validade o trânsito ganha. De vez em quando, podem surgir comentários do tipo “podia ter saído mais cedo” ou “podia ter mandado mensagem”, mas, quase sempre, todos se compadecem.

Crescer, quase sempre, significa ter jornadas de estudo ou de trabalho cada vez mais distantes de casa. No meu caso, que estudava em colégio de bairro, passar a ter de enfrentar 12 km até a faculdade foi uma adaptação difícil. Já vi batida, atropelamento, porta de ônibus caindo… Já cochilei e passei do ponto, já fui furtado, já cedi lugar, já neguei ceder, toda sorte de acontecimentos.

9. Em terra de gente que só sabe falar, quem só ouve precisa de terapia

Com 0,2% de contato com a Psicologia, percebi que o processo e autoanálise, além de necessário, pode não ser algo solitário.

Boa parte de grandes reflexões e compreensões que tive sobre mim mesmo se deram durante conversas com amigos. O confronto de ideias e a mediação de nossos conflitos pela linguagem verbalizada são fundamentais para que a gente veja questões densas com mais nitidez.

Gente grande fala muito. Na maior parte das vezes, sobre si mesma. Na maior parte dessa maior parte, sobre problemas e complicações em que a gente ama se meter quanto mais velho fica. Aqui, as relações costumam se dividir em quem fala e em quem ouve. Pode ser que o equilíbrio seja todo mundo ter alguém para só ouvir e alguém com quem só falar (ou alguém para ambos), mas vamos para os extremos.

Se você é alguém que só fala, na maioria ou em todas as suas relações, é preciso dar uma trabalhada num negocinho chamado empatia. Perceba que um “oi, como é que cê tá?” quase nunca é o suficiente para que você não seja a pessoa que está sempre pronta para desabafar, mas tem pouca paciência para escutar o outro.

Ouvir, além de ser fundamental numa relação de amizade, é parte fundamental também do processo de lidar com seus próprios problemas, no contraste com o outro. A questão não é pressionar para que o outro fale, mas, sim, ter o cuidado de não tornar a maioria das conversas em sessões sobre você. Moderação.

Se você é quem (mais ou) só ouve, é preciso se perguntar o quanto os problemas alheios estão distraindo você de seus próprios problemas. Às vezes, tentar equacionar as complicações de nossos amigos se torna nossa maneira preferida de procrastinar reflexões importantes sobre questões nossas.

A questão, aqui, não é se tornar a pessoa que só fala, mas perceber a importância do equilíbrio, perceber que também é importante que você se sinta à vontade para falar tanto quanto para ouvir. Isso acaba sendo, também, sobre se fazer notar, sobre ter presença.

10. Ser adulto não é isso tudo

Pra terminar (por ora), um clichê (a vida adulta é cheia deles): crescer é superestimado.

Imaginar como era tomar conta das próprias coisas, arcar com as próprias decisões e ter autonomia era mais divertido quando a gente não tinha que entender o que é transferência bancária DOC e TED.

Apesar de cada piadinha ter seu fundo de verdade, espero não ter assustado ninguém. Vamos ver se a lista cresce ou se muda. Gratidão e até!

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Maturidade é se manter em silêncio quando o outro espera que você grite

Dawton Valentim

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