Todas as pessoas que conheço acreditam que a melhor fórmula para viver um grande amor é se darem por satisfeitas de que se uma história, por qualquer motivo que seja, chegar ao fim, existem sete bilhões de outras pessoas no mundo esperando para viverem um novo grande amor. Comigo, essa hipótese nunca funcionou. Eu ainda acredito, apesar das rasteiras que a vida me deu, em almas gêmeas e pessoas que nasceram para ficarem juntas.
Confesso que já comi o pão que o diabo amassou quando o assunto é relacionamento. Já amei demais, já recebi amor de menos. Já me doei e recebi quase nada em troca. Já saltei do precipício dos apaixonados e caí de cabeça no fundo falso de um relacionamento que era feito miragem – de longe, parecia um oásis. De perto, era seco e duro como o chão que me recebeu em queda de braços abertos.
Mesmo diante de todos os meus inegáveis finais infelizes, nunca abri mão da parcela do meu coração que persiste em acreditar no amor meio conto de fadas. No amor que é mágico, que é lindo, que tem um sentimento enorme de pertencimento e de comunhão. Acredito veementemente que cada ser apaixonado nasce com metade de um coração e passa a vida inteira buscando outra que lhe complete. Que transforme as duas metades num único corpo, para depois disso, viverem uma só vida. Um só amor.
Mas me diga você que, talvez, também acredita que é possível achar outra metade dentre bilhares de metades que existem por aí: como viver tentando achar o sapatinho de cristal de uma Cinderela que talvez não exista? É como passar a vida toda com uma penca de chaves na mão, enfiando-as em todas as fechaduras, rezando para que sirva em alguma delas.
Confesso que não é fácil acreditar no amor nos dias que se seguem. A realidade é um convite irrevogável a destruir tudo que a gente cultiva de mais preciso – a fantasia. O amor. Quando a gente se depara como um amor real, todas as nossas expectativas de viver um conto de fadas meio que são dissipadas, dispersadas, meio que não cabem ali, naquela história.
Mas eu ainda acredito no amor de verdade. Ainda acredito em almas gêmeas e em pessoas que nasceram para ficarem juntas. E mesmo que tudo dê errado para mim de novo, mesmo que eu volte a provar do sabor amargo do pão que o diabo amassou, ainda assim, vou continuar testando chaves e fechaduras. Ainda vou continuar enfiando o sapatinho de cristal em todos os pés que me parecerem convidativos.
O amor existe. Eu sei. Eu sinto. Ele é real. Ainda que existam sete bilhões de outras pessoas no mundo, tenho certeza absoluta de que alguém, por mais distante e difícil de se encontrar que seja, também tem esta mesma sensação. Quem sabe, talvez, ainda que demore ou que já tenha chegado essa hora, a gente possa se encontrar e oferecer um ao outro, metade de cada coração para vivermos juntos uma só vida. Um só amor.