Será que você realmente conhece a sua namorada?

– Você namora há dois anos e não sabe qual é o tipo de chocolate que ela prefere? – perguntei a um amigo que estava na dúvida entre o chocolate amargo, o chocolate branco e o chocolate ao leite.

– Não faço a menor ideia, meu! – ele respondeu, com uma expressão de “E que diferença isso faz?”.

– Como assim? – continuei – Isso faz toda a diferença!

– Ah, eu nunca reparei nisso.

– Mas sugiro que você comece a prestar mais atenção nesse tipo de coisas – aconselhei.

– Ah é? E por quê?

– Porque ela nunca se sentirá única ao lado de alguém como você, que demonstra não saber o que ela tem de diferente das outras! – afirmei.

– Pára de filosofar e me dá um exemplo prático…

– Vamos supor que a tua namorada sinta dor de cabeça sempre que come pimenta…

– Certo.

– Agora imagina a seguinte situação, num restaurante indiano: a tua namorada faz o pedido dela e você, logo de seguida, pede ao garçom que verifique se há pimenta no prato que ela escolheu. Tá imaginando?

– Sim. O que tem?

– É uma forma de você demonstrar, indiretamente, que conhece e se importa com as sutilezas que a tornam uma pessoa única, diferente das outras. É uma maneira simples de você mostrar que está sempre atento àquilo que ela te diz ou demonstra, mesmo quando está de boca fechada. E a melhor parte: é muito mais fácil do que descobrir quantos dedos de cabelo ela cortou.

– Entendi. Então você está me dizendo que conhece todos os mínimos detalhes da tua namorada?

– Todos? Provavelmente não. Mas eu sei, por exemplo, que ela não gosta de receber rosas, orquídeas e margaridas, mas que sorri quando recebe cactos ou girassóis. Sei, também, que ela não usa roupas amarelas; que prefere chocolates bem amargos ou com avelãs (Nada de amêndoas ou passas!); que é apaixonada por um bolo chamado “Red Velvet”; que fica irritada quando ouve Pink Floyd; que gosta da gema do ovo dura; que faz questão de comer a beirada do pão de forma; que se sente mal quando a temperatura sobe muito; que sonha em ter um frigobar no estilo antigo (vermelho, de preferência!); que está interessada em comprar umas calças jeans bem pretas – pretas mesmo! – e um baú para guardar a coleção de sapatos que só usou duas vezes; que precisa de alguns minutos entre o prato principal e a sobremesa; que – diferentemente da maioria dos habitantes do mundo – come a alface sem tempero; que começa a comer a coxinha de frango pela parte mais fina; que sonha em morar numa vila só com casas, nada de apartamentos; que está louca para diminuir o comprimento do cabelo; que não consegue dormir quando a cama está quente; que gosta do arroz mais “durinho”; que adora filmes de época (desde que não tenham dragões, magos ou gladiadores); que não se sente à vontade quando precisa pedir favores para mim; que usa a palavra “tá” quando não quer falar mais ou quando está aborrecida; que é péssima para lembrar nomes de atores e de filmes; que pizza é a comida que ela mais ama em todo o universo; que ela odeia coentros, mas que adora manjericão; que ela – diferentemente de mim – não tem medo de turbulência no avião; que tem pavor de que eu a ache velha; que prefere o meu cabelo desarrumado e não muito curto. Enfim… Já escolheu o chocolate?

– Acho que vou levar o de leite. E você?

– Não vou levar nenhum deles, irmão.

– Por quê?

– Porque sei de outro detalhe admirável em relação à minha namorada: ela não vê diferença alguma entre os chocolates quadrados e os que têm formato de ovo. Pelo contrário, ela me disse que acha um absurdo pagar muito mais caro só para comer chocolates arredondados.

Ricardo Coiro

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